Ecco em italiano pode significar “aqui está” e também “bravo!” ou “é isso!”. Qualquer uma dessas expressões fica bem se aplicada a Humberto Eco (1932-2016), que desde sua primeira obra assombrou o mundo tanto por sua erudição – ele foi escritor, semiólogo, bibliófilo, linguista, colunista e filósofo – quanto por sua capacidade de colocar luzes e matizes na sombria idade média com seus estudos sobre Tomaz de Aquino e seu romance ‘O Nome da Rosa’, dentre outros.
Ele, não há quem possa discordar, influenciou o mundo das letras e, mais que isso, mexeu com aqueles que apenas conheceram algumas de suas frases pensantes. Por exemplo, esta reflexão extraída de seu livro ‘O pêndulo de Foucault’: “Eu acredito que o que nos tornamos depende do que nossos pais nos ensinam em momentos estranhos, quando eles não estão tentando nos ensinar. Somos formados por pequenos pedaços de sabedoria.”
A arte, quando é capaz de ser este pequeno pedaço de sabedoria que influencia e transforma para melhor ao menos um único ser humano, vale todo o esforço e, por vezes, sofrimento da criação.
Quando você está agindo naturalmente, sendo autêntico e dando bons passos em prol de algo que valha a pena, estará colocando em ação sua maior capacidade de influenciar seus filhos, amigos e quem trabalha com você ou quem toma contato com sua ação ou com o resultado dela. É o seu exemplo que mostra, na verdade, aquilo em que você acredita.
Outra frase de Humberto Eco, extraída do livro ‘A ilha do dia anterior’, diz: “As histórias que eu gostaria de escrever me perseguem. Quando estou no meu quarto, parece que estão à minha volta, como diabinhos, e enquanto um puxa minha orelha, outro aperta meu nariz, e cada um me diz: “senhor, escreva-me, eu sou bonita.” Os diabinhos atendidos e transformados por Eco em romances ou ensaios estão à nossa disposição para ler, esmiuçar, criticar, gostar, odiar e, mais que tudo refletir e aprender a aprender.
A leitura aguça a criatividade e desenvolve o aprendizado da capacidade de refletir e analisar. As empresas que avançam no campo da cultura, possibilitando debates enriquecedores em todos os seus níveis, avançam em seus necessários resultados, mas não a qualquer preço, não a qualquer custo.
Um de seus últimos atos, seguindo sua consciência de não fazer as coisas a qualquer preço, foi a criação de uma nova editora com o nome ‘La nave di Teseo’. A decisão aconteceu em novembro de 2015, quando a editora italiana Bompiani, que publicou a maior parte da obra de Eco, foi vendida para um conglomerado controlado pela família do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi.
Ecco!