Polinizando ideias: Ferida desenhada

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O Brasil, infelizmente, foi o país em que a escravidão durou mais tempo. Mais de 3 séculos explorando humanos, de tal forma que hoje não é suportado nem sobre animais. Mais da metade de toda a história do Brasil foi construída pelos escravos.
 
Os livros retratam essa “página infeliz da nossa história” sempre do ponto de vista dos senhores brancos, sejam visões assépticas, negativas ou positivas, mas sempre sem considerar o olhar e o sofrer dos escravizados.
 
Márcio D’Salete, mestre em história da arte pela USP, professor da Escola de Aplicação também na Universidade de São Paulo, quadrinista e ilustrador, escreveu o livro “Cumbe” onde por meio dos quadrinhos, reconta a história aa partir do ponto de vista desprezado pelos livros escolares: o ponto de vista dos escravizados. Eles são os protagonistas das 4 histórias que compõem o livro.
 
“Cumbe” é uma palavra da língua banto, que significa quilombo, mas significa também, o sol, o dia, a luz, o fogo e a maneira de compreender a vida e o mundo. E é essa nova luz que D’Salete lança sobre esta história de horror, que repercute gravemente até os dias atuais.
 
Publicado em 2014, o livro mostra, com poucas palavras e muita força imagética, a esperança e a resistência dos escravos no período colonial brasileiro. Passa longe dele a abordagem superficial ensinada nas escolas. Os escravos que fugiam, por vezes são retratados nos livros escolares como bandidos e os quilombos, como uma estrutura mal feita e provisória e não como quase cidades autossuficientes, que alguns deles se tornaram.
 
Como protagonistas, têm direito de terem retratadas suas histórias de vida, de luta pela liberdade e amplia a visão do leitor sobre este período tenebroso da história. A expressividade dos traços e a força da voz dos escravos, que até agora foram silenciados, reforça a correção histórica e chacoalha a sensibilidade sobre esta questão e as suas trágicas consequências sociais.
 
Por toda a força e luz sobre o passado, a obra foi indicada ao prêmio máximo dos quadrinhos dos EUA, o Eisner Awards.
 
Buscar conhecer o passado, a história verdadeira de sua empresa, sua cidade, seu país, possibilita reduzir os riscos de cometer os mesmos erros e, mais que tudo, lhe torna possível ser capaz de fazer análises mais justas sobre a realidade atual.
 
Livro: Cumbe
Editora: Veneta – Edição especial
Autor: Marcelo D’Salete (roteiro e arte)

Polinizando ideias: Botero, o renascimento colombiano

 
Fernando Botero, artista plástico colombiano nascido em Medellín, é conhecido mundialmente por suas figuras, em telas ou esculturas, que esbanjam centímetros por todos os lados. Na região onde nasceu, em 1932, não havia museus ou tradição de pintores, então foi descobrindo sozinho o que seria fazer arte.
 
Ele alimentou sua inspiração em diversas fontes, desde obras pré-colombianas, passando pela arte popular da América Latina, até a inspiração definitiva dada pelas obras italianas dos séculos 14 e 15. Neste período, Botero encontrou os excessos, os volumes que até hoje iluminam os olhares de todos os apreciadores de arte, mesmo nos tempos contemporâneos de culto à magreza.
 
Buscou aprimoramento por meio do autodesenvolvimento. Aos 19 anos, passou um tempo em Madrid, fazendo cópias de obras do Museu Del Prado, para conseguir dinheiro para viver e experiência para se desenvolver. Passou dois anos em Florença, copiando afrescos e tomando contato com as obras que tinham o caráter plástico e volumétrico que o influenciaram fortemente, advindos do renascimento italiano. Depois morou em Nova Iorque, onde o forte naquele momento era a pintura abstrata e, portanto, muito diferente da sua escolha artística.
 
Botero escolheu ser um artista independente. Livre das amarras das tendências e modismos, fazendo uma pintura em que acreditava. Ele disse: “É claro que esta atitude provocou todo tipo de resistências. Mas insisti em meu ponto de vista, mesmo contra a corrente, porque estou convencido de que a arte é uma expressão muito pessoal do que o artista tem dentro de si, e que cada um tem que buscar o frescor e a originalidade interiores. Assim, consegui fazer uma obra que atualmente tem uma grande aceitação.”
 
Sua obra, que mescla tantas referências, porém é completamente única e identificável, inspira a reflexão de que, sim, é preciso que aqueles que queiram fazer diferença em qualquer campo e não apenas no artístico, também devem beber em muitas fontes, não para fazer cópias, mas sim produzir algo único e significativo para o seu trabalho e para sua vida. Como ele diz, buscar o frescor e a originalidade dentro de si, para fazer o que quer e o que vale a pena ser feito.

Polinizando ideias: O mentor e a imaginação

reencontro

“O Reencontro” traz de forma suave, porém contundente, a importância de um Mentor. Esse termo aparece na mitologia grega, sendo o nome de uma pessoa que aconselha, compartilha sabedoria.

Este filme mostra o ganho que qualquer pessoa tem ao buscar inspiração e aprendizado com pessoas que já viveram experiências diferentes e que tenham habilidade de transferir não apenas conhecimento, mas de inspirar novos comportamentos. Mostra também que esta é uma típica relação onde todos ganham, pois o próprio mentor se transforma, se reencontra.

Outro aspecto pelo qual vale assisti-lo é por ele falar e demonstrar a força da imaginação, já que a procura pelo que não está lá é o que mobiliza o ser humano para o novo, para o porvir que vale a pena.

Morgan Freeman interpreta um escritor e se você quiser se encantar e viver um pouco a força que tem a imaginação, fique atento à história do elefante, com a qual ele presenteia a filha da vizinha em seu aniversário, além é claro de seu papel de mentor, que é o tema central deste texto.

Nesta época onde a informação está na palma da mão, um mentor ainda tem importância e relevância para o desenvolvimento de profissionais melhores, de pessoas melhores e é disso que as empresas e o mundo estão precisando mais que nunca.

O Reencontro (The Magic of the Belle Isle)
Diretor: Rob Reiner
Com: Morgan Freeman 
EUA
2012

Polinizando ideias: Ai Weiwei: arte e empatia

weiwei
 
Em 1958, quando Weiwei tinha apenas um ano, seu pai o poeta Ai Qing foi banido para Xinjiang, na fronteira entre China e Rússia. Acusado de ser contra o partido comunista foi obrigado a limpar fossas, mas ensinou seu filho Weiwei sobre poetas e pintores franceses, pois estudou arte na França nos anos 1930.
 
Nos anos 1980 a punição cessou, a família pode retornar a Pequim e então, Ai Weiwei entrou para a Escola de Cinema. Logo fez parte de um grupo que divulgava poesia e pinturas em um local que passou a se chamar Muro Democrático. Rapidamente a iniciativa foi reprimida, um dos integrantes condenado a 10 anos de prisão e Weiwei se auto exilou nos Estados Unidos, levando consigo apenas US$ 30, visto de estudante e o desejo de ser um novo Picasso. Logo saiu da escola e tornou-se um morador ilegal.
 
Quando voltou à China, depois de 12 anos, estava com quase 40 anos e morava com sua mãe. Era pouco produtivo, apenas organizando exposições e publicações. A mãe praticamente lhe deu um ultimato para cuidar da própria vida e ele, em apenas poucas horas, projetou seu próprio estúdio, e o construiu em dois meses. O sucesso foi imediato, foi guindado à posição de principal arquiteto chinês, sem nunca ter estudado arquitetura. Participou do desenho do Estádio Olímpico de Pequim e seu estúdio Fake Design fez mais de 50 projetos.
 
Foi convidado em 2006 para criar um blog, encerrado pelo governo chinês em 2009, que tentou calar sua voz prendendo o artista. Libertado por pressão internacional, exilou-se novamente, desta vez na Alemanha. Weiwei conhece na própria pele a dor de ser um refugiado.
 
Toda a sua história lhe permite ter coração para ouvir carinhosamente, colocando-se de forma verdadeira no lugar do outro. Na filmagem de Human Flow – filme que aborda justamente a condição dos refugiados, a equipe de filmagem sempre estranhava a postura de Weiwei “atrapalhando” as tomadas: levando um chá a alguém, ouvindo atenciosamente a história de outro e chorando junto, sentindo a dor do outro. Essa profunda empatia fez com que os refugiados percebessem que não estavam frente a ouvidos moucos e sentiram-se respeitados.
 
Weiwei faz refletir com seu pensamento: “A crise não é só política, é humana e moral. Discutir os direitos humanos é fundamental. É preciso entender que eles (os refugiados) não pertencem a uma classe especial. São como nós.”
 
O mesmo pode se dizer da hierarquia nas organizações, das relações com terceirizados, com fornecedores: não são uma classe especial, são como nós.
 
Filme: Human Flow – Não existe lar se não há para onde ir
Direção: Ai Weiwei
Gênero: Documentário
Alemanha
2017

Polinizando ideias: Blade Runner 2049 e o poder de uma lembrança

BladeRunner2049
Blade Runner 2049 quase se chamou na tradução em português: “Blade Runner – Androides Sonham”, nome que se refere ao livro “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?”, de Philip K. Dick e que inspirou o primeiro filme “Blade Runner” lançado há 30 anos.
A imaginação humana é capaz de alguns inusitados carinhos, como neste Blade Runner 2049, onde lembranças de infância, cuidadosamente imaginadas para parecerem verdadeiras, são implantadas nos replicantes (androides) que foram criados à imagem e semelhança de humanos adultos, para serem seus escravos em tarefas que não interessam aos homens e mulheres de uma terra imprópria para a vida.
A justificativa para as lembranças (que são vitais ao roteiro) é a de propiciar acalanto à dura vida dos replicantes.
Pequenos carinhos podem ser grandes diferenciais, por propiciar momentos de prazer e felicidade que, por vezes, grandes esforços seriam incapazes de proporcionar.
Uma toalha quente para higienizar as mãos em um restaurante japonês, um bombom de boa qualidade sobre o travesseiro de um hotel, um bilhete de boas vindas no trabalho na volta das férias, uma janelinha para a terra (dizem os astronautas), um atendente de padaria que já sabe o que você deseja e o prepara com cuidado, um desenho do seu filho te abraçando.
Se uma empresa consegue encontrar esse meio gentil, carinhoso e genuíno de propiciar um momento de felicidade ao seu cliente, ela se aproxima de uma relação de confiança que tem valor inestimável. Agora, se uma empresa consegue ter ações de carinho e cuidado genuíno com seus empregados, certamente fará com que seu produto, serviço e imagem sejam da melhor qualidade.
Blade Runner 2049
Direção: Denis Villeneuve
Com: Ryan Gosling, Harrison Ford, Robin Wright, Dave Bautista
Estados Unidos
2017

Polinizando ideias: Pedaços de delicadezas

sombra

Louvor da Sombra
é um pequeno livro (menos de 50 páginas) escrito em 1933 por Junichiro Tanizaki e que provoca debates há muitas décadas. Os críticos e estudiosos não chegaram a um resultado comum em sua análise. Enquanto alguns percebem este seu texto como uma belíssima descrição de como é o gosto estético do autor em relação às modernidades ocidentais versus a tradição japonesa, outros veem na obra uma paródia muito bem escrita e não uma defesa do estilo de tradição genuinamente japonês na arquitetura e costumes.
 
Algumas de suas passagens podem proporcionar ao apreciador de literatura um grande prazer, como a que descreve o papel japonês em comparação ao papel ocidental:
 
“O papel, segundo ouvi dizer, foi inventado pelos chineses, e para nós, os japoneses, o papel ocidental nada mais é que uma utilidade; já o aspecto e a textura do papel japonês (washi) ou do chinês (toushi) nos proporcionam sensação de tépido aconchego e paz de espírito. Além disso, a brancura do papel ocidental difere da do papel japonês especial (housho), ou da do papel chinês branco (hakutoushi). A textura do papel ocidental tende a repelir a luminosidade, mas tanto o housho como o hakutoushi têm textura suave semelhante à da macia primeira neve de inverno e, como ela, absorve brandamente a luz. Bastante maleável, não produz ruído ao ser dobrado ou amassado. Manuseá-lo é o mesmo que tocar em folhas de árvores frescas e úmidas.”
 
Escrever é despertar a imaginação. É levar o leitor a caminhar e sentir outro mundo. Quando se consegue ao descrever uma simples folha de papel, exprimir em palavras algo que mexe com vários sentidos como a visão e o tato (primeira neve de inverno), a audição, o tato e o olfato (Não produz ruído…é o mesmo que tocar em folhas frescas e úmidas) e outras sensações (tépido aconchego e paz de espírito), se envolve o leitor neste papel de uma tal forma que ele também quer tocar e dobrar o washi e ter suas próprias sensações.
 
Saindo desta poética competência e retornando ao mundo das organizações, tal é a revolução pela qual o mundo está passando em termos de produtos e serviços que se a empresa não consegue despertar no seu cliente e na sua equipe sensações boas que proporcionem momentos inesquecíveis, certamente ele a trocará, assim que possível, por outra que o ajude a sentir e a viver com mais intensidade ou com nuances que despertem sentidos e sensações que ajudem a vida a ser, pelo menos, mais prazerosa.
 
Livro: Em Louvor da Sombra
Autor: Junichiro Tanizaki
Editora: Penguin – Companhia das Letras

Arte sobre imagem
Obra: Folding Screen with Design of Plum Tree
Escola Rin
Período Edo
Tokyo Fuji Art Museum

Polinizando ideias: Escolhas que fazem toda a diferença

poema

Para nossa polinização de hoje, escolhemos um poema do americano Robert Frost que, se lido com a atenção e a escuta atentas, poderá produzir belos frutos.

A estrada não trilhada
Robert Frost (1874 – 1963)

Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia…

Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.

Tradução: Renato Suttana

Polinizando Ideias: Um pedacinho de Klimt

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Gustav Klimt (1862-1918) nasceu em Baumgarten, nas proximidades de Viena, na Áustria Imperial. Mesmo sendo de origem humilde, aos 14 anos começou seus estudos artísticos na Escola de Artes e Ofícios de Viena, devido à sua habilidade no desenho. Rapidamente começou a desenhar retratos, a partir de fotografias e a vendê-los.
O estilo de Gustav começou a se diferenciar, distanciando-se da pintura acadêmica e engajando-se em uma nova perspectiva desenvolveu uma produção de forte cunho decorativo, ganhando grande visibilidade e sendo solicitado para decorar prédios e instituições, como a decoração do teto e das escadarias laterais do imponente “Teatro Municipal de Viena”, além de ter finalizado o projeto de decoração do “Museu Histórico da Arte”.
Novas ideias invadiam Viena e atraiam intelectuais de diversas localidades, criando um cenário fervilhante, que permitiu muitas alterações no conhecimento científico, na sociedade e na arte. Antes de Klimt, os pintores locais eram provincianos e a maioria das obras retratavam a elite vienense. A obra do artista dialogava com a arte japonesa e africana, o que resultou em uma pintura de características absolutamente peculiares.
Klimt tinha um olhar especial sobre o feminino. Fez isso de forma hoje considerada belíssima, mas absolutamente chocante para a época, pois retratava o universo feminino com uma nudez crua, que não tinha paralelo naqueles tempos, rompendo definitivamente com o conservadorismo, retratando as mudanças que são evocadas na troca de século. Paris o reconhecia, enquanto Viena o condenava. Seu quadro Filosofia (destruído em 1945), recebeu o prêmio de melhor obra estrangeira na Exposição Universal de Paris de 1900, enquanto em Viena professores universitários, ao verem essa obra ainda inacabada, exigiram que o Ministério da Cultura suspendesse o apoio ao artista, solicitação que foi negada. Alguns questionaram sua sanidade mental ao avaliarem o erotismo de suas pinturas. Foi perseguido em Viena por mais de 10 anos, até finalmente se renderem a seu talento.
Seu pai era ourives e Klimt usou ouro para envolver as figuras de muitas de suas telas, que levam hoje seis mil pessoas todos os dias ao Museu Belvedere, em Viena que é dono da maior coleção de obras de Klimt – inclusive “O Beijo”, que é uma de suas telas mais famosas. Já, o “Retrato de Adele Bloch-Bauer”, de 1907, demorou três anos para ser finalizado. Foi feito de petróleo, prata e ouro sobre tela. Essa obra foi vendida na Christie’s de Nova Iorque por 135 milhões de dólares em 2006. A história do roubo desta tela pelos nazistas foi retratada no filme A Dama Dourada (Woman in Gold, 2015).
Gustav Klimt disse: “O que queira saber sobre mim – como artista, digno de atenção – deverá observar detidamente meus quadros e tentar reconhecer quem sou e, então, o que quero.”
Seu legado, vivo e pulsante, após 155 anos de sua morte é um grande recado a profissionais de qualquer campo do quanto ser corajoso, ativo, altamente criativo e participar ativamente das transformações pelas quais o mundo sempre está passando é o que faz a vida vale a pena.

Arte sobre:
“Retrato de Adele Bloch-Bauer”
1907
Gustav Klimt
Neue Galerie – Nova Iorque

Polinizando ideias: A genialidade em comunhão de Ezio Bosso

ezio

Palco do passeio público, dos músicos, da história, da arte, da arquitetura e fé, essa semana a Piazza Maggiore de Bologna-Italia se transformou em uma gigantesca sala de concerto ao ar livre, dedicado aos encontros do G7 sobre meio ambiente, que será realizado este mês na capital romagnola. A transmissão do concerto foi realizada na tela mais larga da Europa, alimentada através de energia de painéis solares.

A Orchestra del Teatro Comunale di Bologna foi regida pelo italiano Ezio Bosso, maestro, compositor contrabaixista e pianista. Um músico prodígio, autor de cinco sinfonias, concertos, peças para ballet, cinema, teatro, além de inúmeras peças de câmara e solo. Tudo isso já seria fora do normal para um ser humano comum. Ezio Bosso carrega o peso de uma enfermidade terrível, a esclerose lateral amiotrófica (ELA), que vem lhe acometendo os movimentos desde 2011. No meio do processo, um tumor foi retirado do seu cérebro, que segundo ele acelerou todos os seus problemas com a esclerose. Após a cirurgia, Ezio precisou reaprender a tocar todos os instrumentos.

No entanto, a enfermidade em nada afeta sua criatividade, talento e empatia com o público. Ezio fala com dificuldade, que logo se transforma em leveza e transmissão de belos pensamentos e reflexões pontuais. Quando toca e rege a orquestra, o faz com um enorme sorriso, que parece envolver suas dores. De seu esforço descomunal, a música flui solta, como palavras que acariciam o silêncio. Em nenhum momento discorre sobre suas dificuldades ou se lamenta de qualquer coisa, sua atenção é toda voltada para a comunhão musical e filosófica.

O programa dedicado ao meio ambiente, se encerra com a Sinfonia Inacabada de Schubert, que segundo Bosso, é uma das peças mais belas da música. Fazendo alusão ao tema ambiental, a peça que ficou por tanto tempo guardada na gaveta, vive e revive cada vez que é interpretada, mesmo que esteja incompleta. Ao encerrar a sinfonia no segundo o movimento, ao invés dos quatro habituais, o ouvinte leva para si um poema em aberto. Para transformar, reciclar e (re)viver.

“A musica é como o sorriso. Um sorriso talvez não mude uma vida, mas pode mudar um momento e aquele momento, todo um dia. Um dia pode transformar a vida de uma pessoa.”

Ezio Bosso

Site: www.eziobosso.com
Escute: Following a bird [The 12th room]: goo.gl/4cdziw

Foto: Riccardo Savi

Polinizando Ideias: O Japão em São Paulo

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São Paulo tem a maior população de japoneses e descendentes fora do Japão. Provavelmente este foi um dos motivos para ser escolhida para abrigar um dos três centros culturais Japan House, que o Japão construiu para propagar sua cultura milenar. As outras localidades escolhidas são Londres, na Inglaterra, e Los Angeles, nos Estados Unidos, mas a de São Paulo foi a primeira a ser inaugurada, no dia 06/05/2017.

A cultura japonesa é muito popular em São Paulo, pois têm uma história que começou com a imigração japonesa no Brasil em 1908. No início, os imigrantes japoneses foram impostos aos trabalhos agrícolas extremamente mal remunerados. Mas, a cada geração, japoneses e seus descendentes melhoraram suas vidas. Em São Paulo e em diversas cidades do Brasil, a cada ano, inúmeros festivais japoneses são realizados e os restaurantes de culinária japonesa fazem sucesso em centenas de cidades brasileiras.

A Japan House paulistana tem uma biblioteca com cerca de 2 mil livros, em português, japonês e inglês, divididos em categorias como design e viagem. Além do acervo tem um restaurante japonês, um café, cinema, lojas e curiosidades como o banheiro em estilo japonês. O prédio tem três andares com atrações gratuitas voltadas à arte, gastronomia e tecnologia. A primeira exposição fica em cartaz até 9 de julho e aborda a relação dos japoneses com o bambu: “Bambu – histórias de um Japão”.

Nesse mundo tão globalizado, há tanta cultura desconhecida a ser desvendada e vir a inspirar ações que valem a pena para toda a humanidade.

Para saber mais: http://www.japanhouse.jp/saopaulo