Polinizando ideias: A arte do século XXI

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O multiartista japonês Kohei Nawa tem uma reflexão sobre a arte no Século XXI em contraponto com a arte do Século XX, que merece ser compartilhada.

Ele diz que o artista do Século XX expressava na sua arte todas as suas angústias, suas dores, sua raiva, o seu eu interior, o seu sentimento menos visível.

Hoje, um grande número de pessoas expressa a todo momento seus sentimentos não por meio da pintura, da escultura, da música ou da literatura, mas por meio das diversas mídias sociais.


O artista então, segundo Nawa, tem agora o papel de utilizar o que já existe fora dele, seja a gravidade, ou os pixels, ou a natureza, ou seja o que for já existente e ser um agente transformador para uma nova e multifacetada obra, que provoque o olhar, aguce a imaginação, a sensibilidade.

Convidado a dar aula na universidade disse que preferia que os alunos fossem a seu estúdio para aprender na prática e assim foi feito, com ganho muito maior para alunos e artista.

Suas esculturas, arquiteturas e outras modificações do existente para outra e admirável existência, estão em museus de diversas partes do mundo.

Qualquer profissional pode aproveitar essa reflexão e fazer melhor uso do que o cerca em sua casa, em seu trabalho, em sua comunidade. A questão é aguçar o olhar e colocar mãos à obra, para um mundo com mais significado.

Explore: kohei-nawa.net

Polinizando Ideias: O homem que viu o infinito

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A genialidade de um dos maiores matemáticos de todos os tempos já seria um bom motivo para um filme, porém esta história mostra aspectos reais, que interessam ainda mais por se aproximarem dos problemas que o mundo continua enfrentando, apesar de passados quase cem anos do período retratado. Ele traz as diferenças culturais criando barreiras entre povos, o racismo mostrando suas perversas garras mesmo entre eruditos, os aspectos religiosos ainda causando divisões pelos opostos incredulidades e fé irrestrita.

O indiano Rāmānujan (1887–1920), demonstrava extraordinária inteligência matemática desde a infância e, apesar de grandes percalços, acabou, em 1913, por ser indicado e aceito na Universidade de Cambridge, Inglaterra, sob a tutela do professor Hardy. Mesmo sem formação acadêmica, Rāmānujan contribuiu definitivamente em diferentes áreas da matemática.

O diretor Matt Brown se apaixonou pela história real retratada no livro de Robert Kanigel e por querer ser o mais fiel possível ao retrato de Rāmānujan contido no livro, viajou com o autor pela Inglaterra e pelo sul da Índia. As locações do filme foram autênticas, sendo realizadas gravações na própria Trinity College, em Cambridge, na Inglaterra, e no Sul da Índia, demonstrando cuidado nos mínimos detalhes.

Isso incluiu o rigor com a própria matemática, pois apesar de retratar esta ciência com leveza, o diretor e os atores contaram com a assessoria do Professor Ken Ono, da Universidade Americana de Emory, para que não houvesse erros que danificassem a correta imagem do matemático. O professor é um dos responsáveis por desvendar mistérios matemáticos ainda surpreendentes deixados em um caderno de Rāmānujan, que ficou perdido por muitos anos. O professor Ono é indignado com o estado da educação da época de Rāmānujan e que se preserva nos dias atuais, onde um aluno excepcional pode ser reprovado por regras em excesso. Rāmānujan foi reprovado na Índia, por não se sair bem em inglês e o próprio Ono largou o sistema educacional e depois entrou na Universidade de Chicago sem um diploma escolar.

O autor Kanigel e o diretor Brown acabaram por se tornar grandes amigos e nos interessa neste texto ressaltar este aspecto da importância (em todos os sentidos) de boas relações profissionais como as mostradas no filme, onde Rāmānujan e o professor Hardy, pessoas de características pessoais, culturais e religiosas diametralmente opostas, buscam a força de sua relação no claro interesse comum. Essa relação possibilitou um grande avanço do conhecimento matemático e das conquistas da humanidade.

A clareza de objetivos pode ser o fator que nos apoia a superar divergências e a realizar feitos que valem a pena para todos.

Título original: The Man Who Knew Infinity
(O homem que viu o infinito)
2015
Baseado no livro: The Man Who Knew Infinity de 2015, escrito por Robert Kanigel
Diretor: Matt Brown

Polinizando Ideias: Rosetta em Pedra, Nave e…

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Primeiro a pedra: O Egito antigo, com suas pirâmides, faraós e história milenar era um grande mistério, pois não havia ninguém no planeta capaz de decifrar a antiga linguagem dos egípcios, os hieróglifos. Em 1799, o exército de Napoleão encontrou uma grande pedra de granito pesando mais de 700 quilos. Na pedra estava escrito em baixo relevo três vezes o mesmo texto em três línguas: grego antigo, demótico-que era uma língua egípcia já conhecida na época, e os indecifráveis hieróglifos.

O texto, que era um decreto do rei egípcio Ptolomeu V, promulgado em 196 a.C. possibilitou que estudiosos finalmente decifrassem os hieróglifos e adentrassem à milenar cultura egípcia. Um elo perdido foi restaurado por meio da linguagem e a história da humanidade ficou mais clara e completa. O termo Pedra de Rosetta é utilizado hoje em dia em outros contextos, para se referir a alguma informação essencial de um campo novo de conhecimento.

Agora a Nave: Hoje, 30/09/2016, às 8:20h horário de Brasília, a sonda Rosetta aterrissou no cometa 67P e finalizou com sucesso, há 850 milhões de quilômetros da Terra, sua missão que começou a ser planejada na década de 1990, em projeto conjunto entre a NASA e a ESA (Agência Espacial Européia).

A missão que buscou compreender o surgimento do Sistema Solar foi lançada em março de 2004 com o objetivo de alcançar o 67P e soltar sobre ele o módulo robótico Philae (Philae é o nome de um obelisco egípcio que também ajudou a traduzir a Pedra de Rosetta). O robozinho conseguiu realizar um feito inédito, que emocionou o mundo, em novembro de 2014, pousou no cometa, no entanto o robô ficou em uma área de sombra, sua bateria não pode ser recarregada, mas mesmo assim, cumpriu 80% das análises que lhe cabiam.

A viagem espacial de 12 anos da sonda ofereceu dados que ampliaram o que se sabia sobre o aparecimento da vida na Terra. A missão histórica buscou compreender o surgimento do Sistema Solar, já que os cometas são vestígios da sua matéria primitiva. As últimas imagens da Rosetta enviadas hoje à Terra mostraram o solo do cometa dez segundos e cinco segundos antes do impacto.

A arte, na imaginação de pintores, escultores, escritores e poetas muitas vezes antecipa a ciência. Guilherme Arantes, na década de 1980 compôs a música “Lindo Balão Azul”, com o marcante refrão “Pegar carona nessa cauda de cometa, ver a via Láctea, estrada tão bonita…”

Aproveite a incrível e única capacidade do ser humano de relacionar os vários saberes, eternizados pela linguagem, imaginados pela arte, concretizados pela ciência e vivenciados pela capacidade de sentir de cada um de nós.

Pouso da Roseta com narração do cientista brasileiro Lucas Fonseca, que participou da missão: https://goo.gl/nXw0l1
Para saber mais sobre o pouso do Philae: https://goo.gl/YoWv5x

 

Polinizando ideias: As crianças argentinas e o cinema

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A Argentina tem um padrão cultural muito diferenciado, quando tomamos por base, por exemplo, a relação livrarias X habitantes de Buenos Aires em comparação com São Paulo, percebe-se nitidamente que são muitas páginas de distância. Em 2015, São Paulo tinha 390 livrarias, ou 3,5 livrarias por grupo de 100 mil habitantes, enquanto Buenos Aires tinha 734 ou seja, 25 livrarias a cada 100 mil habitantes. Interessante é, que as livrarias independentes têm um papel fundamental no mercado livreiro argentino, sendo poucas as redes, o que dá um caráter de maior proximidade e influência do livreiro no seu público leitor.

A arquitetura, a música, a ópera, o teatro, os museus também sempre foram grande marcos culturais, apesar das agruras políticas e econômicas que varreram o país nos últimos 50 anos, pelo menos. O tango e a milonga atraem turistas de todo o mundo e também bailarinos em importantes competições de dança locais e internacionais. Assim, a arte é pulsante na sociedade Argentina.

A prova definitiva de que eles sabem unir arte e educação é a nova estratégia que está sendo testada nas escolas primárias: As crianças terão o cinema como matéria curricular. A iniciativa é feita em parceria com a França, que já tem um programa parecido para as crianças na escola primária.

O que o programa prevê, é que as crianças assistirão filmes produzidos pela indústria cinematográfica argentina e aprenderão a analisá-los, sendo assim, o cinema para essa crianças, passará da categoria entretenimento para ser um elemento de desenvolvimento cultural e pessoal na vida dessas crianças.

O desejo é que esta iniciativa, que se chama “Escola vai ao cinema” e é apoiada pelo Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais da Argentina (INCAA) e pela agência do cinema francês CNC, transforme-se em uma estratégia de longo prazo e passe a fazer parte da política de educação nacional.

Para fazer diferença, em qualquer campo de qualquer indústria e da vida é preciso traçar o futuro desejado e trilhar os caminhos necessários para se chegar lá. Buenos Aires é pioneira no desenvolvimento da indústria criativa na América Latina desde 2001, quando o governo municipal lançou um plano cultural estratégico com objetivo de reforçar o papel da cidade “como um centro regional para a criação, produção e difusão da cultura”. Em meio a esse fervilhar cultural, o cinema argentino têm impressionado o mundo com sua sensibilidade, simplicidade e criatividade.

Conhecer o cinema argentino seja para reflexão ou entretenimento é um bom uso para o tempo de todos que gostam de cinema.

Confira algumas títulos argentinos, que nós da Oficina adoramos:

Plata quemada
Ano: 2000
Argentina/Uruguai/Espanha/França
Direção: Marcelo Piñeyro
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

O Filho da Noiva
(El hijo de la novia)
Argentina/Espanha
2001
Direção: Juan José Campanella
Prêmio: Premio Ondas de Cine a la Mejor Actriz

Historias Mínimas
Direção: Carlos Sorín
Ano: 2002
Argentina/Espanha
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

Clube da Lua
(Luna de Avellaneda)
Ano: 2004
Argentina
Direção: Juan José Campanella
Indicações: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

O Segredo dos Seus Olhos
(El Secreto de Sus Ojos)
Argentina/Espanha
Ano: 2009
Direção: Juan José Campanella
Prêmios: Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

O Homem ao Lado
(El Hombre de al Lado)
Ano: 2011
Argentina
Direção: Gastón Duprat, Mariano Cohn
Prêmio: Sundance Film Festival Excellence in Cinematography Award: World Cinema Dramatic

Las Acacias
Ano: 2011
Argentina/Espanha
Direção: Pablo Giorgelli
Prêmio: Caméra d’Or – Cannes
Indicações: Satellite Award de Melhor Filme Estrangeiro

Medianeras
Ano: 2011
Argentina/Espanha/Alemanha
Direção: Gustavo Taretto

Um Conto Chinês
(Un cuento chino)
Ano: 2011
Argentina/Espanha
Direção: Sebastián Borensztein
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

Relatos Selvagens
(Relatos Salvajes)
Argentina/Espanha
Ano: 2014
Direção: Damián Szifron
Prêmios: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano, Satellite Award de Melhor Filme Estrangeiro, Critics’ Choice Award: Melhor Filme Estrangeiro
Indicações: Oscar de Melhor Filme Estrangeiro

Truman
Espanha/Argentina
2015
Direção: Cesc Gay
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

* Capa – arte sobre fotografia de:
Infância Clandestina
Argentina
2010
Direção: Benjamín Avila
Indicações: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

Polinizando ideias: Los Carpinteros: Objeto Vital

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Os três artistas que iniciaram em 1992, em Havana – Cuba, o coletivo Los Carpinteros, muito provavelmente não conhecem Marco Antônio, que trabalha como segurança em São Paulo, Brasil, mais especificamente no CCBB – Centro Cultural do Banco do Brasil.

Ele, no entanto, conhece parte da vasta obra e dela fala com paixão e propriedade aos que têm a sorte de demonstrarem interesse pelos significados da arte do coletivo quando não há nenhum monitor por perto e é horário de trabalho de Marco Antônio, que além de cuidar da segurança das obras, as protege da superficialidade, detalhando fatos e desejos dos seus autores e provocando admiração.

A exposição “Los Carpinteros: objeto vital” é composta por desenhos, aquarelas, esculturas, instalações, vídeos e obras que utilizam, de forma criativa, a arquitetura, a escultura e o design e aliam a competência artesanal ao pensamento crítico e conceitual que só a arte é capaz.

Podem ser apreciadas obras de todas as fases do coletivo, desde sua visão bastante entremeada com aspectos cubanos e sua crise econômica e política que teve seu auge no início do coletivo, passando pela ampliação da visão dos artistas que resultou em obras mais plurais, em sintonia não apenas com Cuba, mas com o mundo, até obras inéditas, feitas exclusivamente para esta exposição.

O belíssimo edifício do CCBB – SP faz uma boa acolhida à diversidade de obras do coletivo e ainda nos brinda com Marco Antônio, um segurança que, ao não se limitar à sua função, faz um espetáculo à parte e, ao mesmo tempo, interligado com os desejos dos artistas demonstrados em todas as suas obras, mas explicitado em “Marquilla Cigarrera Cubana”, obra que integra madeiras nobres encontradas em casarões abandonados por ricaços americanos com a pintura, e mostra a arte dessacralizada, onde dois dos artistas aparecem despidos, visitando uma sala de museu, como a dizer, “estamos aqui, nus apresentando autenticamente a nossa arte”.

Dois vídeos diametralmente distintos que a integram, mostram a pluralidade de alta qualidade de Los Carpinteros e convidam, a não perder a vontade de voltar a jogar.

Exposição: Los Carpinteros: Objeto Vital
Artistas: Alexandre Arrechea, Dagoberto Sánchez e Marco Valdes.
Local: CCBB São Paulo
Curadoria: Rodolfo de Athayde
Quando: 30/07 a 12/10/2016

Foto: Marli Gavioli

Polinizando ideias: Instituto Reação: Qual a sua luta?

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A primeira medalha de ouro do Brasil na Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro veio da luta. Uma luta que começou desde a descoberta do Brasil e que, infelizmente, ainda está muito longe de terminar. É a luta contra a desigualdade, contra as injustiças, contra o racismo, contra a falta de perspectiva de futuro.

A dona da medalha é Rafaela Silva e sua fala, logo após sua conquista, mostra um pouco desta dura realidade: “Uma criança que cresce dentro da comunidade não tem muito objetivo. Mas eu sou uma criança que começou a treinar aos cinco anos por brincadeira e agora sou campeã olímpica.” 

O judô chegou ao Brasil no início do século XX, com os primeiros imigrantes japoneses, aqui encontrou adeptos dentro e fora da colônia e se transformou no esporte individual que mais trouxe medalhas olímpicas para o Brasil.

Talvez Rafaela pudesse não ter se encontrado com o judô e traçado este caminho para a glória de ser a primeira brasileira a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016, se não tivesse existido uma pessoa como Flávio Canto, medalha de bronze na Olimpíada de Atenas, que idealizou o Instituto Reação, que é uma organização que promove o desenvolvimento humano por meio do judô e da educação, desde a iniciação esportiva até o alto-rendimento.

Flávio Canto observa que no judô se aprende primeiro a cair e só então a derrubar e esta metáfora, a necessidade de se levantar a cada queda, tem um poder muito grande na hora dos tombos da vida. Além disso, o Instituto Reação promove o desenvolvimento interdisciplinar, o aprendizado como uma forma de alegria e, principalmente, o gosto por praticar valores que vão além da coragem e determinação necessários à prática do esporte, já que o programa educativo desenvolve a disciplina, o compromisso, a responsabilidade e a autonomia.

Uma missão do Instituto Reação é reduzir as distâncias sociais gigantescas e pensa fazer isso trazendo quem está acima social e economicamente a conhecer, interagir e ajudar a mudar a realidade, a dura realidade de quem está nas camadas historicamente desfavorecidas da população.

O maior desafio autoimposto pelo Instituto Reação é que cada uma das crianças que ali chegam acreditem que possam ter sonhos e que estes possam se realizar. A menina Rafaela não tinha sonho. Seu entorno era pobre demais para possibilitar isso, mas chegou ao Instituto acompanhando a irmã, lá descobriu seu sonho: ser campeã olímpica. Impossível? Ela e o Instituto Reação mostraram que não.

E você, qual a sua luta? Qual o seu sonho?

Conheça um pouco do Instituto Reação:
Qual a sua luta: https://goo.gl/8xIr3A
Site: www.institutoreacao.org.br

Foto: Divulgação

Polinizando Ideias com a força das pessoas.

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Vejam só que belo. Duas mil pessoas compareceram na abertura do 11º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, que acontece no Memorial da América Latina, e assistiram a pré-estreia de “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert. Não acha grande coisa?

Gente bravíssima, que foram conferir algo gratuito, que não é um show pirotécnico, uma estrela musical ou algum enlatado comercial. Não há “vantagem” nenhuma de soberba, de alguma posse instantânea pelo valor do ingresso. Foram em pleno frio rasante paulistano, com o único intuito de se conectarem com a arte.

Volta e meia isso acontece em solo paulistano. Essa cidade é problemática, mas muitas e muitas pessoas almejam o diferente. São elas que levam esse negócio pra frente. Salve.

Algumas pessoas saudosistas repetem o mantra que “no tempo delas havia mais interesse cultural, havia mais qualidade nas obras.” Essas pessoas que tentam subjugar outras gerações, são as que menos fazem algo que estimule o pensamento de agora. Talvez nunca tenham feito em tempo algum.

Esse tipo de manifestação em prol da cidade é o cerne do progresso. Deveria ser exibida e comentada no jornal em horário “nobre” – seja lá o que for isso – para que se replique cada vez mais. Mas não, repetem os meandros políticos intermináveis, como se apenas eles, os dirigentes políticos, pudessem decidir o chão de amanhã. Há de se louvar os que tentam sair da mesmice, para que tenhamos menos ódio e mais reflexão.

Precisamos louvar todas as pessoas que tentam avançar pelo meio mais difícil, porém mais inteligente. Maquinando sua mente em prol de si e consequentemente facilitando o avanço do próximo. Niemeyer ficaria feliz com essa imagem.

11º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo
20 a 27/07
Confira a programação completa:
www.festlatinosp.com.br/2016

Foto: Divulgação Memorial da América Latina

Polinizando ideias: A arquitetura de Paulo Mendes da Rocha

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Um homem que se inspira em andorinhas para planejar a reforma de um edifício histórico é aquele que segue uma das regras básicas e mais desprezadas da boa arquitetura: conversar com o entorno. Este homem é Paulo Mendes da Rocha, nascido em 1928, na cidade de Vitória-ES, morador da cidade de São Paulo desde 1940, e o mais premiado arquiteto brasileiro de todos os tempos. Ele já havia recebido em 2006 o prêmio de arquitetura de maior prestígio no mundo: o Pritzker e, em maio de 2016, recebeu o Leão de Ouro na 15ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, pelo conjunto de sua obra.
 
Seu caminho para o sucesso iniciou-se logo após sua formatura quando, em 1957, ganhou uma competição nacional para a construção do ginásio de esportes do Clube Atlético Paulistano. Este trabalho lhe trouxe reconhecimento público e, com ele, ganhou o Grande Prêmio Presidência da República na 6ª Bienal de São Paulo em 1961. É autor de projetos marcantes como o do MUBE-Museu Brasileiro da Escultura, a intervenção arquitetônica na Pinacoteca do Estado de São Paulo, intervenção e reforma da Estação da Luz e projeto do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo e as novas instalações do Museu Nacional dos Coches em Lisboa, Portugal, dentre muitos outros.
 
Alguns de seus pensamentos:

“Todo o espaço deve ser ligado a um valor, a uma dimensão pública. Não há espaço privado. O único espaço privado que você pode imaginar é a mente humana.’’
 
“Uma cidade nasce do desejo de os homens estarem juntos.”
 
“O projeto ideal não existe, a cada projeto existe a oportunidade de realizar uma aproximação.”
 
“Condomínios são “os ovos da serpente”.
 
“A primeira e primordial arquitetura é a geografia”.
 
A arquitetura é invasiva. Ela destrói a natureza para abrigar o homem. Sobre a desolação ela constrói o belo. Ela destrói o belo e o histórico e constrói uma edificação horrenda e rentável, que terá obrigatoriamente que ser vista todos os dias por milhares, por vezes milhões de pessoas. Os profissionais da arquitetura, portanto, precisam ser éticos, precisam ter bom senso, precisam ser sensíveis, precisam ser artistas, precisam ser práticos para usar a menor quantidade de metros quadrados de destruição da natureza para satisfazer (e bem) as necessidades humanas.
 
Assim como o arquiteto, o profissional de todos os campos deve ser ético, para que sua intervenção no mundo cause o mínimo desgaste possível à natureza e aos demais seres viventes. Apoie sua empresa a realizar com ética. Seja você também um profissional que se inspira e conversa com a natureza para realizar seu trabalho, seja ele qual for.
Abaixo,  uma entrevista filmada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde ele conta como as andorinhas influenciaram seu projeto, outras boas histórias de sua jornada e sua relação com o urbano.

 

Polinizando Ideias: Saramago e A Caverna de Platão 

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Corria célere o ano de 1922. O pai chega ao cartório para registrar seu filho recém-nascido. Naturalmente o tabelião lhe pergunta qual nome dará ao seu menino. O pai lhe responde “José de Sousa”, que também é seu próprio nome. O tabelião pensa “Mas que falta de imaginação” e nada diz.

Passam-se sete anos e o menino José vai para a escola que lhe exige sua certidão de nascimento. Descobre então, atônito, que seu nome não é a simples repetição do nome de seu pai, mas sim chama-se José de Sousa Saramago. O tabelião inconformado com o triste destino do menino, acrescentou-lhe a alcunha pela qual a família do Sr. José de Sousa, um pobre camponês, era conhecida. Saramago, é nome de uma planta herbácea, que nascia espontaneamente nos campos da província do Ribatejo, em Portugal e que 76 anos depois, incorporou o significado do primeiro e único (até o momento) escritor em língua portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura.

O pequeno aluno mostrou-se brilhante, mas aos 15 anos precisou parar de ir ao Liceu e passou para a escola técnica em busca de uma profissão que pudesse auxiliar nas despesas da família. O ofício escolhido foi o de serralheiro mecânico. O inusitado é que foi na escola técnica que ele encontrou os livros, pois além das disciplinas técnicas havia aulas de francês, português e literatura. E foi nos livros didáticos de literatura, que descobriu a poesia. Somente aos 19 anos pode comprar um livro e com dinheiro emprestado de um amigo. A biblioteca pública de Lisboa passou a ser sua companheira nas noites após o trabalho de serralheiro em uma oficina mecânica, e sua curiosidade e vontade o guiavam nas escolhas de suas leituras. Aos 25 anos, já casado e pai de sua única filha, Violante, que nascera naquele ano, publicou seu primeiro livro que intitulou A Viúva, mas foi publicado como Terra do Pecado. Somente 19 anos depois, em 1966, teve outro romance publicado que se chamou Os Poemas Possíveis.

Muitos livros vieram depois desse, mas queremos dedicar algumas poucas linhas a um de seus livros, publicado no ano 2000, que se chama A Caverna. Trata-se de uma versão moderna do mito de Platão. Platão colocou seus prisioneiros mitológicos em uma caverna de onde tinham uma visão do mundo apenas por meio de sombras projetadas de pessoas e estátuas do mundo exterior, e concluíram que as sombras é que eram a verdade e quando um deles conseguiu fugir e voltou contando do mundo como ele realmente era, foi morto, pois ninguém queria sair do “conforto” de um mundo conhecido, apesar de muito pior que o real. Saramago instala seus personagens como “prisioneiros” em um edifício – o Centro – de onde ninguém sai, pois tudo o que é necessário lá está. Ali as pessoas moram, trabalham, comem e se divertem sem ver a luz do sol ou da lua.

Tanto Platão quanto Saramago nos chamam a refletir sobre o ser humano e seu próprio pensamento, que pode aprisionar em mundos paralelos, cruéis e pouco sensíveis e a suportar situações e pessoas que distorcem a realidade. É sempre bom lembrar que o ambiente de trabalho, no qual se despende tanto tempo de vida, não precisa ser um ambiente de tortura ou de tristeza, mas pode e deve, ser um ambiente de respeito, criatividade e realização para todos.

Foto: Divulgação

Polinizando ideias: Música para crianças contemporâneas (ou Grandes Pequeninos)

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Um homem que nasceu no meio da música, cantou e encantou crianças sendo ainda uma criança, resolveu aos 35 anos de carreira fazer um trabalho dirigido para divertir, entreter e educar crianças respeitando a inteligência dos pequenos, utilizando a música e sua competência como compositor. Este multi-instrumentista, compositor, arranjador e intérprete, é Jair Oliveira, filho de Jair Rodrigues (1939-2014), que aos 6 anos foi intérprete em um álbum de seu pai. Foi um dos componentes (1984-1986) da Turma do Balão Mágico, sucesso absoluto nos anos 1980.

Quando sua esposa, a atriz e bailarina Tânia Khalill estava grávida de Isabella, sua primeira filha, a inspiração para este trabalho com crianças surgiu. Este momento especial de sua vida fez canalizar seu desejo de compor várias músicas ligadas a pais de primeira viagem e assim acabou por produzir, em conjunto com Tânia, um livro CD que se chamou Grandes Pequeninos, com interpretações de Wilson Simoninha, Seu Jorge, Pedro Mariano, Luciana Mello, dentre outros e foi indicado ao Grammy Latino 2009.

Em 2011, com a chegada de Laurinha, sua segunda filha, compôs músicas agora inspiradas nas suas duas meninas e lançou um segundo álbum e um canal no Youtube, que se chama Grandes Pequeninos. Em breve ele e sua família, vão estrear um programa no Discovery Kids.

Suas composições trazem temas contemporâneos, como a diversidade e temas atemporais como a imaginação, sempre fazendo valer o próprio título Grandes Pequeninos, isto é não deixa nunca de considerar a capacidade e inteligência das crianças na compreensão de temas complexos.

Inspirar e ser inspirado por crianças é uma excelente maneira de perceber novos prismas de mundo, compreender conceitos, redescobrir significados e aprender mais e melhor.

Para conhecer mais:
Site: www.grandespequeninos.com.br
Clip: https://goo.gl/0SDgLz

Imagem: Divulgação Grandes Pequeninos