Polinizando ideias: As crianças argentinas e o cinema

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A Argentina tem um padrão cultural muito diferenciado, quando tomamos por base, por exemplo, a relação livrarias X habitantes de Buenos Aires em comparação com São Paulo, percebe-se nitidamente que são muitas páginas de distância. Em 2015, São Paulo tinha 390 livrarias, ou 3,5 livrarias por grupo de 100 mil habitantes, enquanto Buenos Aires tinha 734 ou seja, 25 livrarias a cada 100 mil habitantes. Interessante é, que as livrarias independentes têm um papel fundamental no mercado livreiro argentino, sendo poucas as redes, o que dá um caráter de maior proximidade e influência do livreiro no seu público leitor.

A arquitetura, a música, a ópera, o teatro, os museus também sempre foram grande marcos culturais, apesar das agruras políticas e econômicas que varreram o país nos últimos 50 anos, pelo menos. O tango e a milonga atraem turistas de todo o mundo e também bailarinos em importantes competições de dança locais e internacionais. Assim, a arte é pulsante na sociedade Argentina.

A prova definitiva de que eles sabem unir arte e educação é a nova estratégia que está sendo testada nas escolas primárias: As crianças terão o cinema como matéria curricular. A iniciativa é feita em parceria com a França, que já tem um programa parecido para as crianças na escola primária.

O que o programa prevê, é que as crianças assistirão filmes produzidos pela indústria cinematográfica argentina e aprenderão a analisá-los, sendo assim, o cinema para essa crianças, passará da categoria entretenimento para ser um elemento de desenvolvimento cultural e pessoal na vida dessas crianças.

O desejo é que esta iniciativa, que se chama “Escola vai ao cinema” e é apoiada pelo Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais da Argentina (INCAA) e pela agência do cinema francês CNC, transforme-se em uma estratégia de longo prazo e passe a fazer parte da política de educação nacional.

Para fazer diferença, em qualquer campo de qualquer indústria e da vida é preciso traçar o futuro desejado e trilhar os caminhos necessários para se chegar lá. Buenos Aires é pioneira no desenvolvimento da indústria criativa na América Latina desde 2001, quando o governo municipal lançou um plano cultural estratégico com objetivo de reforçar o papel da cidade “como um centro regional para a criação, produção e difusão da cultura”. Em meio a esse fervilhar cultural, o cinema argentino têm impressionado o mundo com sua sensibilidade, simplicidade e criatividade.

Conhecer o cinema argentino seja para reflexão ou entretenimento é um bom uso para o tempo de todos que gostam de cinema.

Confira algumas títulos argentinos, que nós da Oficina adoramos:

Plata quemada
Ano: 2000
Argentina/Uruguai/Espanha/França
Direção: Marcelo Piñeyro
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

O Filho da Noiva
(El hijo de la novia)
Argentina/Espanha
2001
Direção: Juan José Campanella
Prêmio: Premio Ondas de Cine a la Mejor Actriz

Historias Mínimas
Direção: Carlos Sorín
Ano: 2002
Argentina/Espanha
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

Clube da Lua
(Luna de Avellaneda)
Ano: 2004
Argentina
Direção: Juan José Campanella
Indicações: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

O Segredo dos Seus Olhos
(El Secreto de Sus Ojos)
Argentina/Espanha
Ano: 2009
Direção: Juan José Campanella
Prêmios: Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

O Homem ao Lado
(El Hombre de al Lado)
Ano: 2011
Argentina
Direção: Gastón Duprat, Mariano Cohn
Prêmio: Sundance Film Festival Excellence in Cinematography Award: World Cinema Dramatic

Las Acacias
Ano: 2011
Argentina/Espanha
Direção: Pablo Giorgelli
Prêmio: Caméra d’Or – Cannes
Indicações: Satellite Award de Melhor Filme Estrangeiro

Medianeras
Ano: 2011
Argentina/Espanha/Alemanha
Direção: Gustavo Taretto

Um Conto Chinês
(Un cuento chino)
Ano: 2011
Argentina/Espanha
Direção: Sebastián Borensztein
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

Relatos Selvagens
(Relatos Salvajes)
Argentina/Espanha
Ano: 2014
Direção: Damián Szifron
Prêmios: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano, Satellite Award de Melhor Filme Estrangeiro, Critics’ Choice Award: Melhor Filme Estrangeiro
Indicações: Oscar de Melhor Filme Estrangeiro

Truman
Espanha/Argentina
2015
Direção: Cesc Gay
Prêmio: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

* Capa – arte sobre fotografia de:
Infância Clandestina
Argentina
2010
Direção: Benjamín Avila
Indicações: Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano

Café com a Oficina: Medalha! Medalha!

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O desejo de ganhar medalhas marcou definitivamente o personagem Cão Muttley, do desenho Corrida Maluca da Hanna Barbera e, nos jogos olímpicos mostra a força de sua atração. A medalha é o ápice do reconhecimento e a grande marca de um trabalho bem feito. Um medalhista olímpico é um símbolo de luta, de extrema dedicação, de superação.

O esporte é sempre muito claro em mostrar vencedores e vencidos, mas algo que nem todos sabem, é também pródigo em valorizar o esforço, sem o qual não haveria atletas, não haveria avanço, não apenas no esporte, mas nos mais diversos campos da humanidade. Muitas vezes, o que separa um campeão de um quarto lugar – que não leva medalha – são apenas alguns segundos, ou até centésimos em algumas modalidades.

Desde os Jogos Olímpicos de 1948, em Londres, o Comitê Olímpico Internacional passou a reconhecer, com um diploma olímpico, os atletas que chegam em quarto, quinto e sextos lugares. Desde os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, os diplomas passaram a ser dados também aos sétimos e oitavos colocados.

Para a Olimpíada 2016, no Rio de Janeiro, foram confeccionados pela Casa da Moeda do Brasil 37.347 diplomas de premiação feitos com papel filigranado, feito com madeira extraída legalmente. Os medalhistas também recebem o diploma, que tem tamanho A3 (29,7cm x 42 cm), com selos dourado, prateado e bronze para refletir o prêmio ganho. Para os atletas que ficam da quarta à oitava posição, o selo no diploma é verde.

Somente chegar a ser um atleta olímpico já é um feito maravilhoso e para muito poucos, considerando a população mundial. Chegar até a oitava colocação é extraordinário e merece reconhecimento, pois estes seres humanos de extrema dedicação proporcionam emoções inimagináveis não apenas a seus companheiros, técnicos e familiares, mas a um país, ou ao mundo todo, quando mostram atitudes impressionantes, no desempenho de seus esportes, ou escolhendo ser realmente olímpico e apontar falhas do juiz ou do próprio concorrente, o que facilitaria injustamente sua vida.

Precisamos nos inspirar nestes exemplo de reconhecimento do Comitê Olímpico e aprender a reconhecer não apenas os resultados, mas os esforços de quem está à nossa volta, seja um colega, um gestor, um parente, um amigo.

Grandes resultados vêm com pequenos esforços de reconhecimento.

Café com a Oficina: Não terceirize o feedback

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Nada é tão capaz de contribuir tanto para a mudança de comportamento quanto um feedback bem dado e bem recebido.

Se você viu alguma ação concreta de alguém e percebe que pode ajudá-lo a ser melhor, diga-lhe! Com os cuidados básicos de não ter essa conversa na frente de outras pessoas, e nem você, nem quem irá receber o feedback, estarem comprometidos emocionalmente para uma reflexão saudável.

Não imagine que essa recomendação é válida apenas se você é um gestor e quer desenvolver um membro de sua equipe. O profissional contemporâneo deve estar preocupado e contribuindo com uma corrente contínua de desenvolvimento que inclui seus colegas, seus gestores, fornecedores e clientes internos e externos.

O que não tem validade é um feedback terceirizado, isto é, João vai reclamar de uma conduta de Pedro para Maria e Maria procura João e lhe dá um feedback sem nenhuma propriedade, já que não viu o ato e, caso visse, poderia ter tido uma opinião muito distinta da de Pedro.

Se você é gestor, não tenha informantes, isto é uma tática ditatorial e destruidora de equipes. Ao invés disso, saia de sua sala ou posto de trabalho, interaja com as pessoas e processos e tenha os próprios elementos para dar bons feedbacks desenvolvimentistas. Se você é membro de equipe não seja informante. Diga diretamente o que pensa a seu colega e o ajude a ser melhor. Este é o melhor meio de você desenvolver a si mesmo. Abaixo a fofoca no ambiente de trabalho!

Polinizando Ideias com a força das pessoas.

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Vejam só que belo. Duas mil pessoas compareceram na abertura do 11º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, que acontece no Memorial da América Latina, e assistiram a pré-estreia de “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert. Não acha grande coisa?

Gente bravíssima, que foram conferir algo gratuito, que não é um show pirotécnico, uma estrela musical ou algum enlatado comercial. Não há “vantagem” nenhuma de soberba, de alguma posse instantânea pelo valor do ingresso. Foram em pleno frio rasante paulistano, com o único intuito de se conectarem com a arte.

Volta e meia isso acontece em solo paulistano. Essa cidade é problemática, mas muitas e muitas pessoas almejam o diferente. São elas que levam esse negócio pra frente. Salve.

Algumas pessoas saudosistas repetem o mantra que “no tempo delas havia mais interesse cultural, havia mais qualidade nas obras.” Essas pessoas que tentam subjugar outras gerações, são as que menos fazem algo que estimule o pensamento de agora. Talvez nunca tenham feito em tempo algum.

Esse tipo de manifestação em prol da cidade é o cerne do progresso. Deveria ser exibida e comentada no jornal em horário “nobre” – seja lá o que for isso – para que se replique cada vez mais. Mas não, repetem os meandros políticos intermináveis, como se apenas eles, os dirigentes políticos, pudessem decidir o chão de amanhã. Há de se louvar os que tentam sair da mesmice, para que tenhamos menos ódio e mais reflexão.

Precisamos louvar todas as pessoas que tentam avançar pelo meio mais difícil, porém mais inteligente. Maquinando sua mente em prol de si e consequentemente facilitando o avanço do próximo. Niemeyer ficaria feliz com essa imagem.

11º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo
20 a 27/07
Confira a programação completa:
www.festlatinosp.com.br/2016

Foto: Divulgação Memorial da América Latina

Polinizando ideias: A arquitetura de Paulo Mendes da Rocha

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Um homem que se inspira em andorinhas para planejar a reforma de um edifício histórico é aquele que segue uma das regras básicas e mais desprezadas da boa arquitetura: conversar com o entorno. Este homem é Paulo Mendes da Rocha, nascido em 1928, na cidade de Vitória-ES, morador da cidade de São Paulo desde 1940, e o mais premiado arquiteto brasileiro de todos os tempos. Ele já havia recebido em 2006 o prêmio de arquitetura de maior prestígio no mundo: o Pritzker e, em maio de 2016, recebeu o Leão de Ouro na 15ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, pelo conjunto de sua obra.
 
Seu caminho para o sucesso iniciou-se logo após sua formatura quando, em 1957, ganhou uma competição nacional para a construção do ginásio de esportes do Clube Atlético Paulistano. Este trabalho lhe trouxe reconhecimento público e, com ele, ganhou o Grande Prêmio Presidência da República na 6ª Bienal de São Paulo em 1961. É autor de projetos marcantes como o do MUBE-Museu Brasileiro da Escultura, a intervenção arquitetônica na Pinacoteca do Estado de São Paulo, intervenção e reforma da Estação da Luz e projeto do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo e as novas instalações do Museu Nacional dos Coches em Lisboa, Portugal, dentre muitos outros.
 
Alguns de seus pensamentos:

“Todo o espaço deve ser ligado a um valor, a uma dimensão pública. Não há espaço privado. O único espaço privado que você pode imaginar é a mente humana.’’
 
“Uma cidade nasce do desejo de os homens estarem juntos.”
 
“O projeto ideal não existe, a cada projeto existe a oportunidade de realizar uma aproximação.”
 
“Condomínios são “os ovos da serpente”.
 
“A primeira e primordial arquitetura é a geografia”.
 
A arquitetura é invasiva. Ela destrói a natureza para abrigar o homem. Sobre a desolação ela constrói o belo. Ela destrói o belo e o histórico e constrói uma edificação horrenda e rentável, que terá obrigatoriamente que ser vista todos os dias por milhares, por vezes milhões de pessoas. Os profissionais da arquitetura, portanto, precisam ser éticos, precisam ter bom senso, precisam ser sensíveis, precisam ser artistas, precisam ser práticos para usar a menor quantidade de metros quadrados de destruição da natureza para satisfazer (e bem) as necessidades humanas.
 
Assim como o arquiteto, o profissional de todos os campos deve ser ético, para que sua intervenção no mundo cause o mínimo desgaste possível à natureza e aos demais seres viventes. Apoie sua empresa a realizar com ética. Seja você também um profissional que se inspira e conversa com a natureza para realizar seu trabalho, seja ele qual for.
Abaixo,  uma entrevista filmada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde ele conta como as andorinhas influenciaram seu projeto, outras boas histórias de sua jornada e sua relação com o urbano.

 

Café com a Oficina: A música que salva

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Lauriceia Rodrigues tinha 34 anos, em 2007. Ela usava a garagem de sua casa na Paraíba, em uma pequena localidade que se chama Mandacaru e fica na periferia de João Pessoa, para servir sopa aos necessitados de sua região.

Uma tragédia familiar a fez perceber que, nas palavras dela, “estava enxugando gelo com o sopão, não resolvendo um problema”. Um sobrinho seu morreu devido ao consumo de crack. Ela que não tinha nenhum contato com o mundo das drogas e achava que já fazia a sua parte para ajudar a humanidade, ficou perdida.

Rapidamente observou o óbvio não tratado pelo governo ou parte da sociedade: “Criança fora da escola precisa de atividade.” Em 2010, começou um “trabalho de formiguinha”. Com o dinheiro de uma rifa, comprou violões e começou a ensinar música à crianças. Em 2012, criou na garagem de sua casa, a ONG “Uma nota musical que salva”.

Hoje ela atende por volta de 60 alunos de 4 a 17 anos e a única obrigação é estarem no ensino fundamental. As crianças se alimentam na ONG e se alguém chega sem calçados, ela dá um jeito de arrumar um tênis. Sua família relutou inicialmente em dividir seu espaço privado e recursos com outras crianças, mas hoje sua filha de 10 anos toca saxofone e seu marido apoia a iniciativa da esposa.

A ONG consegue algumas doações de empresas e da comunidade, mas ela usa parte de seu salário como fiscal de limpeza urbana e da venda de trufas para pagar as despesas. Conseguiu também outros apoios, como o Sargento Edilson da PM, que dedica um parte de suas horas de folga para ensinar música no Projeto.

Após 5 anos de trabalho, a ONG já colhe os frutos de seu precioso trabalho: “Você não sabe a felicidade que é ver um garoto que estudou música com a gente trabalhando com carteira assinada”.

Transformar uma tragédia pessoal em energia para apoiar outras pessoas e fazer da música um instrumento de vida, mostra que aqueles que têm seu olhar localizado além do próprio umbigo, podem fazer grandes e rápidas transformações no seu ambiente social ou de trabalho. Viva o trabalho destas fortes “formiguinhas”.

Cenas do projeto: https://goo.gl/JKY5JB

Polinizando ideias: O toque de mestre de Paolo Sorrentino

a juventude 

O mais recente filme do diretor italiano Paolo Sorrentino é um encadeado de temas tão delicados quanto profundos e que estão presentes na vida de cada um e de todos: a amizade, a velhice, a juventude, o sofrimento, a beleza, a raiva, o amor, as lembranças, o futuro, o aprendizado, o reconhecimento, a injustiça, a fragilidade da fama de artistas ou de atletas, a declaração de amor muito além das palavras, o recomeço, a saúde.

Fiquemos aqui, com apenas uma gota do filme, aquela que trata do aprendizado:

Um menino, dedicado estudante de violino, repete várias vezes as notas de uma canção. Um famoso maestro está nas proximidades e acaba por procurá-lo. Pergunta por que está interpretando aquela canção e o menino responde que o seu professor disse que ela seria muito útil para ele, que era um iniciante. O compositor confirma que o professor estava certo, afinal, seu nome é Canção Simples, devido à sua real simplicidade. O menino diz:

“Ela não é apenas simples, ela é muito bela.”

O maestro apresenta-se como sendo o compositor da música e pede licença para reposicionar o braço do pequeno violinista, apenas alguns centímetros acima. No dia seguinte, o menino procura o maestro e lhe diz que aquela pequena correção fez grande diferença no seu desempenho com o violino e então lhe agradece.

O maestro diz que o fato de ele ser canhoto faz com que o que é perfeito para um destro, pode não apresentar os melhores resultados para um canhoto, por isso o posicionamento aconselhado foi um pouco fora do padrão.

E assim, a cena nos faz pensar e repensar em momentos de grandes aprendizados, causados por pequenas mudanças que alguém, sábio e gentil, ofereceu e alguém sedento por aprender, aceitou e aplicou.

Além das muitas reflexões que este filme pode provocar, ele traz alguns momentos tão sublimes em termos de beleza cênica, que o que basta é senti-los plenamente, mergulhando na doçura ou força onírica da imagens e da trilha sonora criativa.

Talvez, para alguns espectadores, a sutileza e fragmentação com que Paolo Sorrentino trata de tantos aspectos da vida humana, poderá soar como superficialidade. Mas para aqueles, que por sorte, por amor, por dor ou por entrega plena ao filme se conectarem plenamente à forma com que ele os apresentou, poderá ter um momento de raro prazer ou belo aprendizado.

Filme: A Juventude
Título Original: La Giovinezza
Direção: Paolo Sorrentino
Com: Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz
País: Itália
Ano: 2015

Café com a Oficina: 15 anos de Wikipédia – o imenso sucesso de uma estratégia colaborativa

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Antes de a internet tornar o conhecimento disponível a qualquer pessoa que pudesse acessá-la, as bibliotecas e as enciclopédias eram os redutos do saber. A internet se popularizou na década de 1990 e, 11 anos mais tarde, surgiu uma ideia que conseguiu ainda causar certa admiração e muito ceticismo: a ideia de que qualquer pessoa pudesse, não apenas consultar informações via internet, mas ser também o cocriador destas informações.

Pode-se ler sobre a história da Wikipédia na própria Wikipédia, é claro: https://goo.gl/3KoC8q e, praticamente, sobre qualquer outro assunto. A impressionante disponibilidade das pessoas em fornecer e aprimorar informações tem feito com que a credibilidade da Wikipédia seja semelhante à da Enciclopédia Britânica. Claro, que ela não é infalível, mas tem um controle editorial coletivo. Isso garante certa credibilidade e faz com que a enciclopédia seja respeitada mundialmente.

Como a Wikipédia que causava apreensão por permitir que não especialistas pudessem propor conteúdo, assim também a Oficina de Liderança sempre incentiva às empresas a utilizarem estratégias de coparticipação no desenhar do futuro desejado, na criação de suas regras de funcionamento, no estabelecimento de seus Valores. O compromisso assumido por um participante que constrói conjuntamente é altamente superior ao daquele que apenas cumpre o que alguém lhe determinou.

A biblioteca de Alexandria, marco do desejo de reunir todo o conhecimento humano em um único lugar, está integralmente e muito mais completa a cada segundo, na ponta dos dedos de quem consulta a Wikipédia. Este é um futuro desejado e realizado. Viva a capacidade realizadora e colaborativa do ser humano e que essa capacidade possa superar todas as suas tristes mazelas.

Café com a Oficina: A leitura pode revelar um tesouro escondido

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Os benefícios da leitura são aclamados em prosa e verso a cada dia, desde que o homem inventou a escrita, e um aspecto interessante destes benefícios, que é o de aumentar o poder pessoal, foi trazido à luz pela reflexão de um ex-presidiário americano, Nick Yarris, que foi inocentado após 23 anos de prisão.

Sua pena de morte por matar uma jovem foi anulada, quando os avanços das técnicas de análise do DNA puderam provar que ele era inocente e estava injustamente na prisão.

Ele relata que, em seus primeiros anos de confinamento, sentia-se tão desesperado que dava cabeçadas na parede com raiva e desespero e queria morrer. Foi preso com apenas 20 anos e com baixíssima educação básica, o que fez com que não pudesse ajudar a si mesmo, reagindo sempre com palavrões e com falta de clareza. Segundo sua análise, por não ter educação, por não saber se expressar, além da espera pela morte em uma cela solitária pela morte, ele sofreu agressões físicas e morais.

Tudo começou a mudar quando um carcereiro se apiedou dele e não apenas lhe emprestou alguns livros, mas o ensinou a como ler. Yarris diz que, a partir daí, deixou de ser amargo e passou a se educar. Acabou usando o tempo na prisão para melhorar sua educação, seu vocabulário e seu domínio da língua. Nos anos em que ficou preso leu 10.000 livros.

Ele foi tema de um documentário que se chama Fear of 13 (“Medo do 13”). O nome do documentário vem de uma das palavras que aprendeu com a leitura em seu projeto pessoal de saber mais na prisão, é a palavra triscaidecafobia – medo irracional do número 13. Hoje mora na Inglaterra, escreveu dois livros de memórias e dá palestras falando sobre a importância da leitura e educação no empoderamento dos jovens e de como a passagem pelo sistema carcerário o ajudou a ser uma pessoa melhor. Ele diz que o tesouro que levou da prisão foi o belíssimo conhecimento que adquiriu sobre ele mesmo e uma educação maravilhosa.

O líder Nelson Mandela, também relatou o quanto a leitura o tornou capaz de conhecer aqueles que eram seus inimigos de então, os africaners (brancos que dominavam seu país de maioria negra) para tornar-se o presidente de todos, brancos e negros da África do Sul. Em seus 27 anos de prisão (sua condenação era de prisão perpétua) ele aprendeu a língua, leu seus livros, refletiu sobre sua poesia, para finalmente triunfar e fazer história.

A leitura contribui para aumentar a compreensão do mundo, para entender pessoas de diferentes personalidades e capacidades e para ampliar as análises sobre as situações complexas do cotidiano. E, mais que tudo, para que cada um de nós entenda melhor a si mesmo, como fez Nick Yarris descobrindo possibilidades que nem mesmo imaginava existirem dentro de si.