Polinizando ideias: Ai Weiwei: arte e empatia

weiwei
 
Em 1958, quando Weiwei tinha apenas um ano, seu pai o poeta Ai Qing foi banido para Xinjiang, na fronteira entre China e Rússia. Acusado de ser contra o partido comunista foi obrigado a limpar fossas, mas ensinou seu filho Weiwei sobre poetas e pintores franceses, pois estudou arte na França nos anos 1930.
 
Nos anos 1980 a punição cessou, a família pode retornar a Pequim e então, Ai Weiwei entrou para a Escola de Cinema. Logo fez parte de um grupo que divulgava poesia e pinturas em um local que passou a se chamar Muro Democrático. Rapidamente a iniciativa foi reprimida, um dos integrantes condenado a 10 anos de prisão e Weiwei se auto exilou nos Estados Unidos, levando consigo apenas US$ 30, visto de estudante e o desejo de ser um novo Picasso. Logo saiu da escola e tornou-se um morador ilegal.
 
Quando voltou à China, depois de 12 anos, estava com quase 40 anos e morava com sua mãe. Era pouco produtivo, apenas organizando exposições e publicações. A mãe praticamente lhe deu um ultimato para cuidar da própria vida e ele, em apenas poucas horas, projetou seu próprio estúdio, e o construiu em dois meses. O sucesso foi imediato, foi guindado à posição de principal arquiteto chinês, sem nunca ter estudado arquitetura. Participou do desenho do Estádio Olímpico de Pequim e seu estúdio Fake Design fez mais de 50 projetos.
 
Foi convidado em 2006 para criar um blog, encerrado pelo governo chinês em 2009, que tentou calar sua voz prendendo o artista. Libertado por pressão internacional, exilou-se novamente, desta vez na Alemanha. Weiwei conhece na própria pele a dor de ser um refugiado.
 
Toda a sua história lhe permite ter coração para ouvir carinhosamente, colocando-se de forma verdadeira no lugar do outro. Na filmagem de Human Flow – filme que aborda justamente a condição dos refugiados, a equipe de filmagem sempre estranhava a postura de Weiwei “atrapalhando” as tomadas: levando um chá a alguém, ouvindo atenciosamente a história de outro e chorando junto, sentindo a dor do outro. Essa profunda empatia fez com que os refugiados percebessem que não estavam frente a ouvidos moucos e sentiram-se respeitados.
 
Weiwei faz refletir com seu pensamento: “A crise não é só política, é humana e moral. Discutir os direitos humanos é fundamental. É preciso entender que eles (os refugiados) não pertencem a uma classe especial. São como nós.”
 
O mesmo pode se dizer da hierarquia nas organizações, das relações com terceirizados, com fornecedores: não são uma classe especial, são como nós.
 
Filme: Human Flow – Não existe lar se não há para onde ir
Direção: Ai Weiwei
Gênero: Documentário
Alemanha
2017

Café com Oficina: Um novo Sesc para São Paulo

Sesc

O coração de São Paulo está pulsando em ritmo de emocionada expectativa: no dia 19/08/2017, finalmente será inaugurado um novo Sesc em pleno centro de uma cidade tão carente desta beleza, desta boa energia que faz com que uma instituição que tem 70 anos seja tão vivaz quanto as milhares de crianças que têm a sorte de ter educação não formal no projeto Curumim, que também aniversaria seus 30 anos neste mês.

Nada menos que o arquiteto Paulo Mendes da Rocha é quem capitaneou esta obra, que já traz vivacidade para um pedaço da cidade onde passam milhares de pessoas todos os dias e já são recepcionadas pelos acolhedores funcionários do novo Sesc 24 de Maio que mostram a que vieram, convidando a todos para inauguração, que tem também o papel de encerrar as comemorações dos 70 anos de atividades do Sesc no estado de São Paulo.

O ousado projeto arquitetônico propôs uma piscina de 500 metros quadrados no alto do 13º andar que jorra em e cortina d’água para o 12º piso, para isso, foi preciso reforçar a estrutura, erguendo-se uma coluna roliça de concreto desde as fundações do edifício até o teto. O edifício todo é um convite à interação com as pessoas, com a cidade, com a arte, com a cultura, com a educação.

O diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos Miranda, disse: “entendemos que Um legado material, com construções bem feitas, bem trabalhadas, se forma também a partir de um espaço convidativo para prática da cidadania.”

Quem viveu um momento que seja em uma das unidades do Sesc espalhadas pelo Brasil sabe que, sim, temos possibilidades de fazer bem feito, de gerar bem-estar, de apoiar e facilitar o acesso à cultura da mais alta qualidade e de sermos educadores e educandos para um país melhor.

Incentivar e apoiar as práticas do Sesc é uma forma de empresas e pessoas contribuírem para que este sonho seja sempre realidade e continue realizando e sonhando com passos ainda mais grandiosos.

Foto: ©Matheus José Maria. Divulgação

Café com a Oficina: A casa e a disciplina de Dona Dalva

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Dona Dalva tem 74 anos e 50 anos como empregada doméstica. Organizada e disciplinada sempre guardou um pouquinho de seu salário e, assim, 20 anos depois de começar a trabalhar, saiu da casa dos patrões onde morava com seu filho, para a sua própria casinha na zona leste de São Paulo.

Continuou guardando um dinheirinho todo mês, mas chegou o momento que a casa estava muito ruim e uma parte do teto desabou. Tinha conseguido guardar R$ 150.000,00, o que era insuficiente para comprar uma nova casa em São Paulo.

Ela e o filho, ao invés de fazer o que a ampla maioria dos brasileiros faz, resolvendo problemas assim na base do jeitinho, remendando a casa de qualquer jeito, ou usando aquele pedreiro amigo, resolveram procurar um escritório de arquitetura.

O escritório fez um belo projeto, derrubou a casa e fez uma novinha no lugar. O projeto ganhou o prêmio internacional de arquitetura ‘Building of the Year 2016’.

Essa façanha só foi possível com a disposição para o trabalho de dona Dalva, sua disciplina em guardar dinheiro apesar de ter um salário restrito e o diferencial de buscar o profissional correto, neste caso o arquiteto, para prover a melhor solução possível para a questão e as condições que ela tinha.

Que Dona Dalva inspire a todos!

Conheça o projeto: https://goo.gl/cgk8sN

Polinizando ideias: A arquitetura de Paulo Mendes da Rocha

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Um homem que se inspira em andorinhas para planejar a reforma de um edifício histórico é aquele que segue uma das regras básicas e mais desprezadas da boa arquitetura: conversar com o entorno. Este homem é Paulo Mendes da Rocha, nascido em 1928, na cidade de Vitória-ES, morador da cidade de São Paulo desde 1940, e o mais premiado arquiteto brasileiro de todos os tempos. Ele já havia recebido em 2006 o prêmio de arquitetura de maior prestígio no mundo: o Pritzker e, em maio de 2016, recebeu o Leão de Ouro na 15ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, pelo conjunto de sua obra.
 
Seu caminho para o sucesso iniciou-se logo após sua formatura quando, em 1957, ganhou uma competição nacional para a construção do ginásio de esportes do Clube Atlético Paulistano. Este trabalho lhe trouxe reconhecimento público e, com ele, ganhou o Grande Prêmio Presidência da República na 6ª Bienal de São Paulo em 1961. É autor de projetos marcantes como o do MUBE-Museu Brasileiro da Escultura, a intervenção arquitetônica na Pinacoteca do Estado de São Paulo, intervenção e reforma da Estação da Luz e projeto do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo e as novas instalações do Museu Nacional dos Coches em Lisboa, Portugal, dentre muitos outros.
 
Alguns de seus pensamentos:

“Todo o espaço deve ser ligado a um valor, a uma dimensão pública. Não há espaço privado. O único espaço privado que você pode imaginar é a mente humana.’’
 
“Uma cidade nasce do desejo de os homens estarem juntos.”
 
“O projeto ideal não existe, a cada projeto existe a oportunidade de realizar uma aproximação.”
 
“Condomínios são “os ovos da serpente”.
 
“A primeira e primordial arquitetura é a geografia”.
 
A arquitetura é invasiva. Ela destrói a natureza para abrigar o homem. Sobre a desolação ela constrói o belo. Ela destrói o belo e o histórico e constrói uma edificação horrenda e rentável, que terá obrigatoriamente que ser vista todos os dias por milhares, por vezes milhões de pessoas. Os profissionais da arquitetura, portanto, precisam ser éticos, precisam ter bom senso, precisam ser sensíveis, precisam ser artistas, precisam ser práticos para usar a menor quantidade de metros quadrados de destruição da natureza para satisfazer (e bem) as necessidades humanas.
 
Assim como o arquiteto, o profissional de todos os campos deve ser ético, para que sua intervenção no mundo cause o mínimo desgaste possível à natureza e aos demais seres viventes. Apoie sua empresa a realizar com ética. Seja você também um profissional que se inspira e conversa com a natureza para realizar seu trabalho, seja ele qual for.
Abaixo,  uma entrevista filmada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde ele conta como as andorinhas influenciaram seu projeto, outras boas histórias de sua jornada e sua relação com o urbano.

 

Polinizando ideias: A Bauhaus e a “arte utilizável” 

bauhaus

Até o início do século XX, o mundo ocidental fazia uma clara divisão entre as belas artes (tais como a pintura e a escultura) consideradas de nível superior, das artes artesanais e das artes aplicadas a objetos (como a cerâmica, a tecelagem e a marcenaria), que eram consideradas de nível inferior. A escola Bauhaus, fundada em 1925 por Walter Gropius (1883-1969) na cidade de Dessau, Alemanha transformou esta ideia e integrou estas artes, fazendo surgir o moderno conceito de design.

A Bauhaus  seguia o preceito da funcionalidade racional de objetos e das formas habitáveis, usando o lema “A forma segue a função”, o que significa que a forma deve estar a serviço da funcionalidade do objeto ou do espaço e não do capricho pessoal ou de tradições históricas.

O uso de novos materiais pré-fabricados e móveis em aço, sempre funcionais foi uma marca da Bauhaus, que trazia em seus projetos o simples, a geometrização das formas e o predomínio de linhas retas. As paredes deveriam ser lisas, geralmente brancas, abolindo a decoração, que era vista como burguesa. Utilizavam cores neutras como bege, cinza e preto na composição de ambientes. As coberturas das edificações eram planas, transformadas em terraços quando possível. Fachadas possuíam linhas horizontais, sendo frequentemente fechadas em vidro. As janelas eram amplas e havia uma tendência de abolir paredes internas.

O que a Bauhaus queria e realizou, apesar da vida turbulenta de perseguições em meio às duas grandes guerras, era concretizar uma arquitetura moderna que, como a natureza humana, abrangesse a vida em sua totalidade. Seu trabalho se concentrava principalmente em impedir a escravização do homem pela máquina, desenvolvendo objetos e construções que buscavam eliminar as desvantagens da máquina, sem sacrificar nenhuma de suas vantagens reais.

Assim, a arte, que na época era vista como algo reservado para os ricos, algo separado do dia-a-dia, se integrou à vida cotidiana, servindo ao bem comum. Trouxeram a criatividade para a produção em massa, a estética para a funcionalidade. A criatividade virou o meio através do qual a sociedade poderia moldar uma nova realidade.

Suas ideias influenciaram o mundo e chegaram a nossos dias, no design de objetos como os da Apple, em cidades como Brasília, em cadeiras como a Barcelona e em todo o design contemporâneo.

O que movia a Bauhaus era a ideia de que as artes poderiam melhorar significativamente a vida das pessoas e essa ideia, felizmente, é influente até hoje, inclusive em muitos ambientes de trabalho que buscam a arte e o conforto do mobiliário como aliados ao necessário bem estar do trabalhador.

Para saber mais: http://goo.gl/Uw4ZmU

Arte sobre foto: Luminária Christian Dell, Kaiser Idell Model 6631 Luxus

Polinizando ideias: Museu do Amanhã

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A monumental obra arquitetônica realizada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava já vale a visita à praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro. O edifício tem painéis solares integrados de tal forma à construção, que você precisa estar em busca deles para vê-los. Outro cuidado ecológico é o reuso das águas da Baía de Guanabara, o que além de gerar economia de 9,6 milhões de litros de água ao ano, ainda devolve a água à Baía de forma mais limpa que a recebeu. O paisagismo ficou por conta do escritório Burle Marx e inclui o plantio de 26 espécies, dentre elas o ipê amarelo e o pau brasil. As emissões de gases de efeito estufa são compensadas, por meio da compra de créditos de carbono de projetos certificados, minimizando os impactos das mudanças climáticas. 

As exposições no andar superior são permanentes e no térreo ficam exposições temporárias. A primeira das exposições temporárias coloca o visitante no centro da implosão do elevado Perimetral, que passava ao lado de onde é hoje o museu e que gerou um novo futuro para a cidade do Rio de Janeiro.

As exposições permanentes objetivam fazer refletir sobre o futuro, abordando temas como mudanças climáticas, biodiversidade, crescimento populacional e integração entre cultura e povos. Grandes instalações audiovisuais e jogos interativos ajudam o visitante a percorrer o caminho de onde viemos, nas estações “Cosmos” e “Terra”, quem somos, na estação “Antropoceno”, para onde vamos, na estação “Amanhã” e como queremos ir, na estação “Nós”.

O conceito principal do museu, nas palavras de seu curador Luiz Alberto Oliveira, é a ideia que queremos ajudar a polinizar: “O amanhã não está pronto. Ele será produzido por nossos gestos.” Refletir, repensar e fazer mudanças (mesmo que pequenas, mas na direção correta) em nossos atos cotidianos e nos das nossas empresas é decisivo para que exista um futuro. E que ele valha a pena.

Foto: Divulgação Museu do Amanhã

Café e bolinho com: São Paulo

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Para quem não conhece São Paulo, ter seu primeiro contato por meio das marginais Tietê ou Pinheiros é tocar de choque em algumas de suas características mais visíveis.

A primeira, e muito marcante é o odor (para não dizer fedor, que não é uma palavra bonita) característico dos rios, que mostra que a cidade ainda está a milhares de milhas de uma situação no mínimo adequada do tratamento das suas águas, dos seus detritos, do seu meio ambiente.

Outro aspecto é sua considerável organização e educação no trânsito, conquistada a duras penas (multas) e alguma educação que vai avançando um pouquinho a cada dia.

O desejo de ter algum verde no meio de tanto e desordenado concreto, ainda que no meio da fumaça e da fuligem, vem forte na vegetação que margeia os rios. As plantas que ali florescem lindamente representam um pouco de sua população, que não fraqueja diante de uma dificuldade qualquer.

A ponte estaiada na Marginal Pinheiros (Ponte Octavio Frias) mostra muito sobre São Paulo. É forte, é de concreto armado, mas tem a leveza das curvas e dos cabos que a sustentam sobre o vão de 122 metros. É a realização de um projeto que, como a cidade, privilegia os carros. Por ali não podem passar pedestres, nem bicicletas, nem mesmo ônibus…

A ciclofaixa e o trem que margeiam o rio Pinheiros faz, de leve, o contraponto com esse não pensar no todo da população, ainda que voltemos ao caso do odor…

Os edifícios de empresas, bancos e hotéis de luxo convivem de frente com conglomerados de casas populares ou favelas. Como é a cidade, de ricos e de pobres que convivem ou se enfrentam lado a lado.

No entanto, o que um passeio pelas marginais não é capaz de passar nem raspando é por uma das melhores características desta megacidade: Sua convivência secular com migrantes e imigrantes.

Quem vive em São Paulo convive com pessoas de diferentes origens na escola, na igreja, na vizinhança, no boteco, nos restaurantes, nas feiras e com suas culturas na arquitetura, na música, na culinária, no teatro, na dança, nos esportes, nas mais diversas formas de pensar e agir. E essa forma de ser misturada-sem-nem-se-pensar-sobre-isso tem o valor de tornar cada um mais humano, mesmo com tanta dureza ao redor, e mais capaz de enfrentar os desafios seja quais forem, seja de onde vierem.

Só em São Paulo para o time mais paulistano de todos (e também o seu maior rival), terem sido fundados por italianos. Ou para haver um Centro de Cultura Árabe no meio de um bairro que comporta em sua maioria descendentes judeus. Ou para ter a maior colônia japonesa fora do Japão, ou produzir milhões de pizzas por dia. E tantos e tantos outros exemplos assim.

Os parabéns são para São Paulo e sua capacidade de atrair e reter pessoas que a fazem ser culturalmente diversa, pra valer. Firmeza!

Polinizando Ideias: A Cúpula de Florença

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Florença é uma das mais belas e mais visitadas cidades do mundo. Certamente esta importante cidade italiana não seria a mesma se em 1419, o projeto vencedor para a construção da Cúpula da Catedral de Florença, Santa Maria del Fiore, não fosse de Filippo Brunelleschi.

O incrível que até hoje, tantos séculos e tecnologia depois, esta continua sendo a maior cúpula em alvenaria já construída.

A cúpula está em perfeito estado de conservação e beleza, mas dos projetos de sua construção e montagem não restaram vestígios, assim não se sabe como ela foi feita. O que parece convergente é que Brunelleschi deve ter construído a cúpula utilizando algum sistema inédito e absolutamente inovador de pré-construção. Isto é, a cúpula foi construída em partes, no chão, e montada no alto, para iluminar a linha do horizonte de Florença por muitos séculos. Se assim foi, este foi o primeiro sistema pré-moldado do mundo. Para levar os materiais e módulo para cima ele inventou os bisavós das atuais gruas. Seu sonho fez com que arrumasse solução para todos os problemas.

Esta cúpula ilumina também o pensamento sobre quanto o cuidado genuíno com a beleza e com o esmero podem tornar a vida e a obra de uma pessoa perenes e relevantes.

Para saber mais, veja este vídeo sobre a Cúpula de Brunelleschi: bit.ly/1Q2tW8X

Foto: Marli Gavioli