
Café com a Oficina: Sussurrofone e a professora genial

Imagem: Wikipedia
O médico obstetra francês Sthépane Tarnier trabalhava na Maternité Paris, que atendia mulheres pobres. Em um dia de folga nos idos de 1870, foi passear no Paris Zoo e acabou por deparar-se com chocadeiras de frangos. O calor que apoiava os pintinhos recém saídos dos ovos a iniciar sua jornada pela vida iluminou o pensamento de Tarnier.
Com uma ideia em mente, contratou Odile Martin, responsável do Zoo de Paris por aves domésticas e lhe encomendou uma chocadeira, porém para seres humanos. Naquela época, mesmo na França, a mortalidade infantil era muito alta. Um em cada cinco bebês morriam antes mesmo de engatinhar e, caso fossem prematuros abaixo do peso, este número era bem maior, chegando a 66%.
Tarnier controlou os resultados estatisticamente, mostrando que o uso das estufas reduzia imediatamente as mortes de bebês prematuros a 38%. Rapidamente o conselho municipal de Paris obrigou a todo o hospital dispor de uma incubadora.
As incubadoras modernas, que incluem oxigenoterapia fizeram cair 75% das mortes. Isso coloca as incubadoras como o maior avanço científico na medicina do século XX, em termos de vidas a mais e anos a mais nas vidas salvas do que inventos muito mais complexos.
Infelizmente esse invento não repercute da mesma forma em países pobres, pois as incubadoras modernas são caras e de difícil manutenção. Hoje a taxa de mortalidade infantil nos EUA está abaixo de 10 por 10.000 nascimentos, enquanto que em países como a Libéria e o Congo, morrem mais de 100 bebês a cada 10.000 nascimentos.
Aí entra outra pessoa de mente aberta como o Dr. Tarnier, que é o professor do MIT Massachusetts Institute of Technology, Timothy Prestero. Ele percebeu que em países pobres existe uma vasta competência em consertar automóveis. Assim, resolveu construir uma incubadora com peças de automóveis, fáceis de encontrar no mundo subdesenvolvido. Conseguiu o feito e a incubadora chama-se Neonurtune, por fora é parecida com uma moderna incubadora, mas por dentro um farol de carro é que produz o calor, ventoinhas fazem o ar circular, uma bateria de motocicleta provê a energia necessária e o melhor, qualquer mecânico de automóveis consegue consertá-la.
Boas ideias podem, como já mostramos em outro post, serem adaptações de coisas existentes e funcionarem de modo simples e eficaz nas diversas condições existentes.
É preciso deixar a mente aberta e alerta – e isso só se consegue quando há interesse genuíno no que se faz. Não esqueça da estatística, pois ela dá força e os recursos necessários para que a ideia ganhe vida. Não é à toa que as empresas apoiadoras de novas ideias chamam-se incubadoras. Calor e cuidado: é disso que as boas ideias precisam para sobreviver.
Caso citado no Iivro:
“De onde vêm as boas ideias”, de Steven Johnson
Imagem:
“Taking a Lesson from the Past – Flower Face”
Yong Meon Kang
2004
Korean Art Museum Association
Pouco se sabe sobre a vida do pintor Johannes Vermeer, autor da famosa obra “Moça com Brinco de Pérola” (dentre outros 33 trabalhos a ele atribuídos). A modelo com seu olhar direto para o espectador, tem atraído a atenção e a imaginação sobre quem seria a moça de pele alva e brinco de pérola com brilho em destaque e também sobre este pintor que conseguia a perfeição na representação da luz.
O que se sabe é que Vermeer tinha grandes problemas financeiros e, mesmo assim, utilizou o pigmento azul ultramarino extraído de lápis-lazuli esmagado, que tinha um preço exorbitante, para pintar a parte azul do turbante da moça, obtendo um resultado perfeito.
De 1665, quando foi pintado, ele reapareceu na história em 1881, quando foi foi comprado, por 2,30 florins, em um leilão. O comprador, Des Tombe, a deixou ao morrer para o museu Mauritshuis, localizado na cidade de Haia, na Holanda, onde se encontra até os dias atuais, e é considerada sua obra principal.
Não se sabe se este retrato foi uma encomenda ou um trabalho espontâneo do autor. Alguns pesquisadores acreditam que a modelo tenha sido a filha mais velha do pintor, Maria, quando ela tinha 12 ou 13 anos. Os lenços dispostos como turbante causam estranhamento, pois não são naturais à Holanda de meados de 1665. Sobre a pérola, que no quadro passa a sensação de peso e volume, incidem os mesmos raios de luz que iluminam o rosto, o turbante, o lábio inferior e o colarinho branco da moça. Essa obra foi completamente restaurada em 1994, ressaltando o efeito tridimensional, as cores brilhantes e os tons da pele com que foram pintadas.
Este quadro provocou a interligação de diversas artes. Em 1999, a escritora americana residente na Inglaterra, Tracy Chevalier, escreveu o livro “Moça com brinco de pérola” que vendeu mais de 5 milhões de exemplares e inspirou o filme estrelado em 2004 por Scarlett Joansson e dirigido por um estreante, o inglês Peter Webber.
A cena inicial, que mostra vegetais sendo cortados, já diz que o filme veio para mostrar o mundo da arte pictórica, o mundo da luz. O quadro é retratado de forma impressionantemente semelhante ao original e a história, criada por Chevalier, com imaginação e respeito ao cenário holandês do século XVII, envolve o espectador nas dores e sensibilidades que Vermeer, quem sabe, poderia mesmo ter passado,
Trazendo para o mundo das organizações e para o constante e necessário pensar sobre desenvolvimento pessoal, esta obra realizada com qualidade impressionante, o livro inspirado pela pintura, o filme inspirado pelo livro e todo o aparato de artistas, não apenas o jovem diretor e os atores, mas também os figurinistas, costureiras, pintores, músicos e tantos mais, nos fazem refletir sobre o quanto um trabalho realizado com dedicação é capaz de inspirar e ser o elo com novas possibilidades. Uma genuína e bela corrente de boas realizações.
Artista: Johannes Vermeer
Site do museu Mauristshuis: https://goo.gl/z5yYui
Tracy Chevalier: http://www.tchevalier.com/
Polinizando ideias: As formas de Brecheret e a imigração
A mãe do pequeno Vittorio faleceu quando ele tinha apenas 6 anos. Acolhido pela família do tio materno, imigrou com eles para o Brasil em 1904, buscando uma vida melhor que na sofrida Itália daqueles tempos.
Foram acolhidos pela cidade de São Paulo, que estava em pujante crescimento impulsionado pelo café. O menino Vittorio, no Brasil, tornou-se Victor Brecheret, preservando o sobrenome do pai.
Estudou entalhe em madeira e mármore no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Depois passou 5 anos em Roma aperfeiçoando sua arte. Voltou ao Brasil e integrou-se ao movimento modernista, expondo algumas de suas obras no terraço do Teatro Municipal de São Paulo, durante a importante Semana de Arte Moderna de 1922.
Suas obras podem ser vistas nos mais diversos locais da cidade de São Paulo e em vários lugares do mundo. Seu trabalho mais conhecido, o Monumento às Bandeiras, inaugurado em 1953, levou 30 anos para ser concluído e tem dimensões colossais. Homenageia não apenas os bandeirantes paulistas, mas todo o povo brasileiro. O escultor recebeu prêmios e honrarias no Brasil e na Europa.
A escultura tem essa concretude que outras artes não possuem. As obras de Brecheret, com seus traços limpos e fortes, atraem não apenas o olhar, mas também a interação física das pessoas.
Nestes duros tempos de imigrantes deslocando-se e sofrendo pelo mundo, é importante relembrar a contribuição do menino italiano à arte brasileira. Ele, apesar da vitoriosa carreira internacional, fez questão de buscar e receber a cidadania brasileira como homenagem e gratidão ao país que o acolheu.
Victor Brecheret
http://www.victor.brecheret.nom.br
Foto: Divulgação
Ítalo Calvino (1923-1985) é um escritor italiano que nasceu na cidade de Santiago de Las Vegas em Cuba, mas foi para a Itália muito pequeno. Ele é considerado um dos maiores escritores europeus do Século XX, mas quando ainda não era muito conhecido, recebeu uma encomenda curiosa e relevante: compilar as fábulas italianas, assim como já haviam feito os Irmãos Grimm com as fábulas alemãs no século XIX. Esta obra recebeu no Brasil o Prêmio Jabuti 1993, na categoria de melhor produção editorial em obra coleção.
A fábula é uma alegoria espontânea, que nasceu praticamente em paralelo à linguagem do ser humano e permitiu que ideias abstratas se transformassem em histórias instrutivas e divertidas e, talvez, tenha sido a primeira forma de reflexão sobre valores morais.
No livro, Calvino registra a cidade ou região italiana de onde cada uma das fábulas foi trazida, enriquecendo ainda mais seu conteúdo. A narrativa sempre rica em elementos diversos, como castelos, príncipes e princesas, seres mitológicos, criaturas incríveis, bruxas, fadas, pessoinhas ou gigantes cheios de ação, faz sua leitura ser fácil e leve. Claro que a interpretação pode ter profundos nuances psicológicos ou morais e esse é outro ganho possível desta compilação, que foi modulada pela beleza e maestria com que Ítalo Calvino escreve.
Nestes tempos, distanciadoramente digitais, ler estas fábulas com a família ou amigos pode ser um momento de boa aproximação, de diversão sadia e um remexer na criatividade e no pensar sobre o justo, que é um dos elementos que se abstrai de uma fábula.
Livro: Fábulas Italianas
Autor: Ítalo Calvino:
Editora: Companhia das Letras
Para quem quiser ler pelo menos duas destas fábulas de Ítalo Calvino, acesse este site de domínio público: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001614.pdf
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