Polinizando ideias: O legado de Canaletto

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Muitas vezes se ouve a pergunta que cutuca e alavanca: Qual o seu legado? Poucos profissionais têm o legado tão explícito quanto os grandes pintores. Nas telas deixam seu espírito e seu coração prontos a tocar, inspirar e sacudir as emoções de quem lhes dedica o olhar atencioso e a alma revolta.

O pintor italiano Canaletto (Giovanni Antonio Canale), nascido e morto em Veneza (1697-1768) é um desses grandes ícones da pintura mundial e deixou como legado a vida pulsante de Veneza, Roma e Londres em pinturas que são como retratos precisos e fortes, antecipando o que somente foi possível no próximo século, com o advento da fotografia.

Seus detalhes, que tendem à reprodução perfeita, permitem vislumbrar não apenas a arquitetura da época, mas também a moda, os costumes e as festas de forma vivaz. Observar uma de suas obras é um exercício sensorial intenso e único, que nos convida a mergulhar naquele que é um antigo e um novo mundo pincelado em cada uma de suas nuances.

A tela de Canaletto recebe as paisagens urbanas em um movimento da pintura chamado de vedutismo, já que em italiano “La Veduta” significa “A vista da cidade”. Essa era uma forma de pintar que era novidade para os tempos do Século XVIII, especialmente nos aspectos de perspectiva, pois mostrava as cidades de ângulos até então inusitados e com uma profundidade ainda não experimentada nesse grau de qualidade até então. Em uma tela plana, 2D, vemos a realidade com tanta profundidade quanto se estivéssemos a contemplá-la no ambiente real. Se hoje em dia colocamos uma pintura de Canaletto contraposta a uma fotografia de um local retratado por ele e que se manteve preservado, como o Arco de Constantino de Roma, por exemplo, podemos ver que a paixão por detalhes, apesar de passados 3 séculos, é de impressionar qualquer retina e suas formas, luzes e cores fazem vibrar o coração.

A arte tem poder de expandir o pensamento, de fazer ver novas perspectivas, de nos fazer verdadeiramente humanos, já que é o verdadeiro e necessário diferencial desta nossa raça tão conturbada.

Polinizando ideias com: Sir Ernest Shackleton

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Em tempos tão digitalmente conectados como os que vivemos, por vezes é bom mergulhar em um bom livro e refletir sobre a antevéspera destas conexões, num mundo que mal tinha inventado o telefone e no qual o rádio de ondas curtas ainda estava em lenta gestação.

Este belo livro desvela uma expedição inglesa ao Polo Sul realizada em plena primeira guerra mundial, no ano de 1915 e que por contar com o fotógrafo Frank Hurley a bordo, possibilitou que incríveis imagens em preto e branco façam deste livro um programa duplo. As fotos foram também uma das fontes de recursos para esta custosa expedição, pois os direitos sobre notícias e imagens foram vendidos antecipadamente à viagem para o jornal londrino Daily Chronicle.

A expedição e seus impressionantes problemas, sempre comandados com plena liderança de seu capitão Sir Ernest Shackleton, é narrada de forma contundente logo na página inicial do primeiro capítulo, em trecho retirado do Diário de Bordo do Endurance, descrevendo a situação após o navio ficar preso no gelo antártico na latitude 74° Sul:

“Está quase no fim… O navio não vai aguentar esta vida, comandante. É melhor se preparar, pois é só uma questão de tempo. Ainda pode levar meses, só algumas semanas, ou mesmo dias… mas quando o gelo prende, o gelo não larga mais.”

É um livro que permite refletir sobre liderança em situações extremamente difíceis e, ao mesmo tempo, vislumbrar uma história verdadeira de homens e imagens impressionantes.

Livro: Endurance – A lendária expedição de Shackleton à Antártida
Autora: Caroline Alexander
Editora: Companhia das Letras

Foto: Frank Hurley