
Café com a Oficina: Sussurrofone e a professora genial

Antes de a internet tornar o conhecimento disponível a qualquer pessoa que pudesse acessá-la, as bibliotecas e as enciclopédias eram os redutos do saber. A internet se popularizou na década de 1990 e, 11 anos mais tarde, surgiu uma ideia que conseguiu ainda causar certa admiração e muito ceticismo: a ideia de que qualquer pessoa pudesse, não apenas consultar informações via internet, mas ser também o cocriador destas informações.
Pode-se ler sobre a história da Wikipédia na própria Wikipédia, é claro: https://goo.gl/3KoC8q e, praticamente, sobre qualquer outro assunto. A impressionante disponibilidade das pessoas em fornecer e aprimorar informações tem feito com que a credibilidade da Wikipédia seja semelhante à da Enciclopédia Britânica. Claro, que ela não é infalível, mas tem um controle editorial coletivo. Isso garante certa credibilidade e faz com que a enciclopédia seja respeitada mundialmente.
Como a Wikipédia que causava apreensão por permitir que não especialistas pudessem propor conteúdo, assim também a Oficina de Liderança sempre incentiva às empresas a utilizarem estratégias de coparticipação no desenhar do futuro desejado, na criação de suas regras de funcionamento, no estabelecimento de seus Valores. O compromisso assumido por um participante que constrói conjuntamente é altamente superior ao daquele que apenas cumpre o que alguém lhe determinou.
A biblioteca de Alexandria, marco do desejo de reunir todo o conhecimento humano em um único lugar, está integralmente e muito mais completa a cada segundo, na ponta dos dedos de quem consulta a Wikipédia. Este é um futuro desejado e realizado. Viva a capacidade realizadora e colaborativa do ser humano e que essa capacidade possa superar todas as suas tristes mazelas.
Ecco em italiano pode significar “aqui está” e também “bravo!” ou “é isso!”. Qualquer uma dessas expressões fica bem se aplicada a Humberto Eco (1932-2016), que desde sua primeira obra assombrou o mundo tanto por sua erudição – ele foi escritor, semiólogo, bibliófilo, linguista, colunista e filósofo – quanto por sua capacidade de colocar luzes e matizes na sombria idade média com seus estudos sobre Tomaz de Aquino e seu romance ‘O Nome da Rosa’, dentre outros.
Ele, não há quem possa discordar, influenciou o mundo das letras e, mais que isso, mexeu com aqueles que apenas conheceram algumas de suas frases pensantes. Por exemplo, esta reflexão extraída de seu livro ‘O pêndulo de Foucault’: “Eu acredito que o que nos tornamos depende do que nossos pais nos ensinam em momentos estranhos, quando eles não estão tentando nos ensinar. Somos formados por pequenos pedaços de sabedoria.”
A arte, quando é capaz de ser este pequeno pedaço de sabedoria que influencia e transforma para melhor ao menos um único ser humano, vale todo o esforço e, por vezes, sofrimento da criação.
Quando você está agindo naturalmente, sendo autêntico e dando bons passos em prol de algo que valha a pena, estará colocando em ação sua maior capacidade de influenciar seus filhos, amigos e quem trabalha com você ou quem toma contato com sua ação ou com o resultado dela. É o seu exemplo que mostra, na verdade, aquilo em que você acredita.
Outra frase de Humberto Eco, extraída do livro ‘A ilha do dia anterior’, diz: “As histórias que eu gostaria de escrever me perseguem. Quando estou no meu quarto, parece que estão à minha volta, como diabinhos, e enquanto um puxa minha orelha, outro aperta meu nariz, e cada um me diz: “senhor, escreva-me, eu sou bonita.” Os diabinhos atendidos e transformados por Eco em romances ou ensaios estão à nossa disposição para ler, esmiuçar, criticar, gostar, odiar e, mais que tudo refletir e aprender a aprender.
A leitura aguça a criatividade e desenvolve o aprendizado da capacidade de refletir e analisar. As empresas que avançam no campo da cultura, possibilitando debates enriquecedores em todos os seus níveis, avançam em seus necessários resultados, mas não a qualquer preço, não a qualquer custo.
Um de seus últimos atos, seguindo sua consciência de não fazer as coisas a qualquer preço, foi a criação de uma nova editora com o nome ‘La nave di Teseo’. A decisão aconteceu em novembro de 2015, quando a editora italiana Bompiani, que publicou a maior parte da obra de Eco, foi vendida para um conglomerado controlado pela família do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi.
Ecco!
Ítalo Calvino (1923-1985) é um escritor italiano que nasceu na cidade de Santiago de Las Vegas em Cuba, mas foi para a Itália muito pequeno. Ele é considerado um dos maiores escritores europeus do Século XX, mas quando ainda não era muito conhecido, recebeu uma encomenda curiosa e relevante: compilar as fábulas italianas, assim como já haviam feito os Irmãos Grimm com as fábulas alemãs no século XIX. Esta obra recebeu no Brasil o Prêmio Jabuti 1993, na categoria de melhor produção editorial em obra coleção.
A fábula é uma alegoria espontânea, que nasceu praticamente em paralelo à linguagem do ser humano e permitiu que ideias abstratas se transformassem em histórias instrutivas e divertidas e, talvez, tenha sido a primeira forma de reflexão sobre valores morais.
No livro, Calvino registra a cidade ou região italiana de onde cada uma das fábulas foi trazida, enriquecendo ainda mais seu conteúdo. A narrativa sempre rica em elementos diversos, como castelos, príncipes e princesas, seres mitológicos, criaturas incríveis, bruxas, fadas, pessoinhas ou gigantes cheios de ação, faz sua leitura ser fácil e leve. Claro que a interpretação pode ter profundos nuances psicológicos ou morais e esse é outro ganho possível desta compilação, que foi modulada pela beleza e maestria com que Ítalo Calvino escreve.
Nestes tempos, distanciadoramente digitais, ler estas fábulas com a família ou amigos pode ser um momento de boa aproximação, de diversão sadia e um remexer na criatividade e no pensar sobre o justo, que é um dos elementos que se abstrai de uma fábula.
Livro: Fábulas Italianas
Autor: Ítalo Calvino:
Editora: Companhia das Letras
Para quem quiser ler pelo menos duas destas fábulas de Ítalo Calvino, acesse este site de domínio público: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001614.pdf
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