Polinizando Ideias com a força das pessoas.

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Vejam só que belo. Duas mil pessoas compareceram na abertura do 11º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, que acontece no Memorial da América Latina, e assistiram a pré-estreia de “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert. Não acha grande coisa?

Gente bravíssima, que foram conferir algo gratuito, que não é um show pirotécnico, uma estrela musical ou algum enlatado comercial. Não há “vantagem” nenhuma de soberba, de alguma posse instantânea pelo valor do ingresso. Foram em pleno frio rasante paulistano, com o único intuito de se conectarem com a arte.

Volta e meia isso acontece em solo paulistano. Essa cidade é problemática, mas muitas e muitas pessoas almejam o diferente. São elas que levam esse negócio pra frente. Salve.

Algumas pessoas saudosistas repetem o mantra que “no tempo delas havia mais interesse cultural, havia mais qualidade nas obras.” Essas pessoas que tentam subjugar outras gerações, são as que menos fazem algo que estimule o pensamento de agora. Talvez nunca tenham feito em tempo algum.

Esse tipo de manifestação em prol da cidade é o cerne do progresso. Deveria ser exibida e comentada no jornal em horário “nobre” – seja lá o que for isso – para que se replique cada vez mais. Mas não, repetem os meandros políticos intermináveis, como se apenas eles, os dirigentes políticos, pudessem decidir o chão de amanhã. Há de se louvar os que tentam sair da mesmice, para que tenhamos menos ódio e mais reflexão.

Precisamos louvar todas as pessoas que tentam avançar pelo meio mais difícil, porém mais inteligente. Maquinando sua mente em prol de si e consequentemente facilitando o avanço do próximo. Niemeyer ficaria feliz com essa imagem.

11º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo
20 a 27/07
Confira a programação completa:
www.festlatinosp.com.br/2016

Foto: Divulgação Memorial da América Latina

Polinizando Ideias: Saramago e A Caverna de Platão 

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Corria célere o ano de 1922. O pai chega ao cartório para registrar seu filho recém-nascido. Naturalmente o tabelião lhe pergunta qual nome dará ao seu menino. O pai lhe responde “José de Sousa”, que também é seu próprio nome. O tabelião pensa “Mas que falta de imaginação” e nada diz.

Passam-se sete anos e o menino José vai para a escola que lhe exige sua certidão de nascimento. Descobre então, atônito, que seu nome não é a simples repetição do nome de seu pai, mas sim chama-se José de Sousa Saramago. O tabelião inconformado com o triste destino do menino, acrescentou-lhe a alcunha pela qual a família do Sr. José de Sousa, um pobre camponês, era conhecida. Saramago, é nome de uma planta herbácea, que nascia espontaneamente nos campos da província do Ribatejo, em Portugal e que 76 anos depois, incorporou o significado do primeiro e único (até o momento) escritor em língua portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura.

O pequeno aluno mostrou-se brilhante, mas aos 15 anos precisou parar de ir ao Liceu e passou para a escola técnica em busca de uma profissão que pudesse auxiliar nas despesas da família. O ofício escolhido foi o de serralheiro mecânico. O inusitado é que foi na escola técnica que ele encontrou os livros, pois além das disciplinas técnicas havia aulas de francês, português e literatura. E foi nos livros didáticos de literatura, que descobriu a poesia. Somente aos 19 anos pode comprar um livro e com dinheiro emprestado de um amigo. A biblioteca pública de Lisboa passou a ser sua companheira nas noites após o trabalho de serralheiro em uma oficina mecânica, e sua curiosidade e vontade o guiavam nas escolhas de suas leituras. Aos 25 anos, já casado e pai de sua única filha, Violante, que nascera naquele ano, publicou seu primeiro livro que intitulou A Viúva, mas foi publicado como Terra do Pecado. Somente 19 anos depois, em 1966, teve outro romance publicado que se chamou Os Poemas Possíveis.

Muitos livros vieram depois desse, mas queremos dedicar algumas poucas linhas a um de seus livros, publicado no ano 2000, que se chama A Caverna. Trata-se de uma versão moderna do mito de Platão. Platão colocou seus prisioneiros mitológicos em uma caverna de onde tinham uma visão do mundo apenas por meio de sombras projetadas de pessoas e estátuas do mundo exterior, e concluíram que as sombras é que eram a verdade e quando um deles conseguiu fugir e voltou contando do mundo como ele realmente era, foi morto, pois ninguém queria sair do “conforto” de um mundo conhecido, apesar de muito pior que o real. Saramago instala seus personagens como “prisioneiros” em um edifício – o Centro – de onde ninguém sai, pois tudo o que é necessário lá está. Ali as pessoas moram, trabalham, comem e se divertem sem ver a luz do sol ou da lua.

Tanto Platão quanto Saramago nos chamam a refletir sobre o ser humano e seu próprio pensamento, que pode aprisionar em mundos paralelos, cruéis e pouco sensíveis e a suportar situações e pessoas que distorcem a realidade. É sempre bom lembrar que o ambiente de trabalho, no qual se despende tanto tempo de vida, não precisa ser um ambiente de tortura ou de tristeza, mas pode e deve, ser um ambiente de respeito, criatividade e realização para todos.

Foto: Divulgação

Café com a Oficina: Integridade vale a pena

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O ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, preso na operação Lava Jato da polícia federal, disse em entrevista ao jornalista Mário César Carvalho: “Virei um leproso. Esse foi um ano de lepra. As pessoas fugiam de mim e continuam fugindo…”.

Esse momento da história do Brasil demonstra ao vivo e em cores o quanto viver uma vida íntegra é o que no fim é realmente valorizado e não a superficialidade de ter a qualquer custo uma vida de aparências, com carros de luxo e roupas de grife usurpadas do outro.

É importante e bonito ver que as pessoas (a grande maioria delas pelo menos) percebem e valorizam o comportamento ético, correto. E é isso o que os torna claramente corruptos como que portadores de uma doença altamente contagiosa, de quem as demais querem se afastar, de quem ninguém se orgulha de ser amigo, filho, irmão, pai…

Cada pessoa enfrenta muitas situações durante a vida que a colocam frente à decisão: “Ganho dinheiro ilícito e tenho possibilidades de ter muitas e muitas coisas ou vivo de forma íntegra e tenho orgulho de mim mesmo?”. Esta é uma decisão individual, cada um escolhe seu caminho.

A certeza é que o caminho ético é, perante a sociedade, a família e a própria pessoa, aquele que não se tem vergonha de contar todos detalhes à luz do dia sem perder respeito.